18 de mar. de 2009

como se sustenta o mundo.


"Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação"
(CDA)

Então cheguei perto de você sem que me fizesse perceber. Não exatamente como presença nem como ideia, mas como eu, e te vi dormindo. Acendi a luz do teu abajur e chamei o teu nome, o nome, como se nesse nome não houvesse o intento predicativo, vocativo ou sujeito - como se o nome nem mesmo fosse som, como se o nome fosse as tuas células, os tecidos, os pelos, o tato, o toque. Como se o teu nome não invocasse lembrança alguma ou ancestralidades. Como se esse nome não tivesse morfologias ou derivações, por fim, como se esse nome fosse anterior a qualquer coisa e não se relacionasse com nenhum outro significado a não ser aquela palavra você que eu chamava. E este foi o primeiro ato dentro dos acontecimentos que se forçam.
Embora nos conhecessemos, era a primeira e única vez que travávamos contato - e não havia ali medo ou sobressaltos, não havia o que se esperar ou se iludir: fechou-se a cortina de nossas vidas e, agora oniscientes do nosso tempo e universo, nos olhamos. Não precisava, naquela atmosfera despida, dizer qualquer coisa, mas dissemos e, mesmo antes do reflexo da vida, do amor ou da morte, ouviu-se: "bom dia".
E fomos felizes até então.