17 de out. de 2014

Sempre escrevo melhor quando escrevo cartas. Sempre precisei desse ar de aprovação para poder respirar ou simplesmente para lembrar que preciso de fôlego do suspiro de qualquer um que me diga sim. Que me diga sim. Esse sim vem como um pêndulo do contrapeso que sopro dizendo não. Eu digo não o tempo todo pra mim. Quando me aventuro assim como todo não também escuta um sim, prossigo com qualquer coisa até dizer não novamente. Nisto ficam as coisas inacabadas: uma tatuagem, um curso, uma bicicleta encostada na entrada do meu quarto, receitas de cinco meses atrás. Tratamento interrompido. Cartelas de remédios guardados esperando a data de expirarem. Ódio com hora marcada para abrandar. Volto a dizer sim. Depois de amanhã eu digo não. Nos diários de dois anos atrás há nomes que não ficaram, havia ainda esperas de sim. Violão que só sabe três acordes. A música parou. Há uma espécie de ruínas de coisas interrompidas nesse espaço. Espero morrer fazendo planos para o churrasco de amanhã, haverá cerveja e a espera que a embriaguez seja bem executada. Há um dente que falta nesse sorriso e agora não é sonho criptografado nas teorias no xerox cuja leitura não venceu a segunda página. Texto inacabado esse. Digo que não. Era uma carta, era para ser. Mas não.