31 de dez. de 2013

cartão transitório

uma ação nunca para depois da fotografia o som nunca termina depois da palavra o tempo nunca foi feito de pedra nós nunca fomos feito de ossos
moles
depois de três dias
na coca-cola
que comprou o 
rio
úmido nunca
se disfarça no 
suor da tua testa
nessa coisa toda
de amanha


29 de dez. de 2013

destinerance

nao importa o que me escreva
o que importa é ver a tua boca lendo lenta 
como coisa de palavra infinda
nao importa o que diga
o som é o que me escapa quando na noite
desaba a cama quente de quem
nao importa com quem deite
se meu lençol puro e decente
desajeite esse modo 
fraco de chamar
e é quando 

fica mais baixo
e consola
com letras que
empacota
em dois lados

28 de dez. de 2013

só lida vá por

você é gelo
eu sou vapor
e o resto é água

não é o temperamento
é a temperatura
é a forma que nos condicionamos

somos melhores quando
nos sublimamos pelos vidros
temperados das taças

com a água que sai
dos teus dedos
quando quer pegar
o que?

o tempo faz o vapor decantar
na tua paciência
eu agraço e antes de me desculpar
vejo o teu gotejar
na minha têmpora
temporada
desses trópicos trifásicos

o certo é não ter sede

27 de dez. de 2013

recanto

é que essa onda vem de novo
me falando em português
que do outro lado
há de talvez
seguir a linha do abismo
tom grave da minha 
voz e agora
a sós eu procuro 
e me desnudo no rabisco
que vai até a barragem
do seu riso 
que diz
bobagem boa
enquanto a embriaguez
assim
nos levaria
à linha
da tua voz que
me chama do outro lado 
de parede

mas me resguardo 
da fome e da sede
de tabuadas inexatas 
que me apontam o lado
das horas descompensadas

acerto o meu relógio 
para no acaso
ser o que pode
permanecer no fim

Te vejo a um passo
Do mais sofrego atraso
E ainda assim
Te aguardo fora de mim

25 de dez. de 2013

a ponto de ser

e nem quero estar certa de porra nenhuma
e você entenderia "porra" como uma afronta
ou aquela colocação bem certeira
nem é
nem é mesmo
eu não reviso porque não 
quero
e quero
provar que sou
sublimada
com todas essas agitações
procurem no google
procurem o quer 
saber
mas deste quarto sei eu
sei 
e não documento nem um pouco porque o lance agora
é ser sarcástico
mas não abrem mão do lirismosinhoinho
e nem

e nem vai dar 
pra satisfazer o que quer exaltar
na sala de jantar
todos convidados atentos
para o final sublime

te deixo na mão
agora

mas ainda persisto ao atendo interlocutor

que é
assim desse jeito que quiser
que no fim
todos iremos dormir

mas presta atenção
que na
cotação
do teu cliente
ávido e impassivo
há de ser 
bem competente
em esquecer
das lógicas
que não se lêem
a mente
e escrevo um pouco mais
pra esquecer
o que não soube dizer com
a afiada delicadeza,
esqueça e vá 
dormir.

(assim e
se acordar pegue um copo d'água)

e vá

dormir.

23 de dez. de 2013

menos de 1/3 de vinho

estamos sentados todos nessa mesa para partilhar do incômodo da tua fome
estamos todos aqui esperando o próximo estribilho sarcástico
que vai dar prêmio petrobrás
estamos todos aqui esperando a sacada que marileia pensou e não teve coragem de escrever e se contorceu de identificação quando
a outra
disse assim numa voz bem raivosa
e contínua
vai indo que já estou na frente
do social media engraçadíssimo

só mais um segundo que te respondo como é conseguir
ignorar a conclusão brilhantíssima 
que se decanta na calma da próxima manhã 
café já meio com gosto de atraso
mas voltemos aqui

para gritar e dizer que hoje é bom 
ficar
calado

e  abafar aquela gargalhada da socialite meio sem linha que
vai passar o recesso
na fotografia quieta 
em Havana

_ Não esqueço deixar as taças na pia




22 de dez. de 2013

hipofonica

meu lado esquerdo do cérebro doi
só o esquerdo mesmo
o outro tá livre ainda
da última conclusao que voce teve 
há quinhentos segundos na frente
do que eu tentava escapar
em tres questoes a serem pontuadas
a serem disseminadas no seu 
jeito de segurar esse cigarro
na minha vontade de meter a minha cabeça no meio da parede
bem no meio pra que as rachaduras pudessem fazer uma teia
que voce acompanharia até o seu estomago
encharcado do medo de dormir
e esquecer que realmente dá
dá pra ignorar 
que amanha nem vai rolar de sorrir um riso
desconfigurado
eu estou querendo afundar a sua cabeça junto
com a minha
agora do lado que voce ainda nao conseguiu
trincar
agora do lado direito
agora do lado que nao sabe escrever

16 de dez. de 2013

detuned

conecto o reverso e interpelo três estações de rádios
am estou alertada
olhando a seta ir de um extremo além
volta e vai
e se retém no chiado do teu novo idioma
rasgo a tua boca e examino 
seus sentidos entre
os dentes e a gengiva
que seco pela saliva 
quebro as moléculas do teu chamado
me alojo na garganta
da correspondente que há de anunciar
julieta afogada de ofélias
eu não vou me quebrar
até ouvir claramente
todos seus vocativos
para no gesto rígido
soltar o fio que desponta
do medo de me calar
prossigo, esteves.