27 de fev. de 2014

Sol Menor

às vezes queria me deitar com ele
dentro daquele silêncio de pedras
onde os sons abafam 
o calor de uma dor localizada 
no meio
da testa e se localiza a profusão
dessas opiniões 
ali o sol brilha filtrado da data que 
não dobra
naquele exato ponto
em que as facas exatas
perdem o seu fio
e o medo do segundo que transpassa
os pés
já não confundem
a rua paralela 
ao amanhã

19 de fev. de 2014

poema prostrado

vou assoprar aquele zumbido da
curva dos teu brincos 
pra dizer uma rima ruim do
gosto de tarde que reclama
classificando panfletos
de poemas da classe média B
pra vender pela bahia daqui
a disritmia das tuas noites
que é pra evitar
a sessão de zines
forjadas no risco
de desaparecer
dentre a arquitetura
parada em sombras
e que nem sabe de quem
disseminar teus segredos sem senhas
quatro gotas de conselhos ditados
balanceando ideias riscadas das listras dos
dedos que come nas tardes postadas
de nada

16 de fev. de 2014

diário de domingo

Deus, me ajuda, Deus
a aguentar as trepidações do passo que não encontrou mais a plataforma
Me ajuda a sair daqui sem saber que no fundo das ruas vou encontrar o rosto desconfigurado de um dia anônimo em que nada acontece para todos nós
Me ajuda a passar  por milhares de repetições e descobrir cada um dos seus movimentos e não poder mudá-lo e ela só sai de casa para ir ao supermercado olhando para o céu por desconhecer esses rostos ela só quer o teu da linha da tua camisa que era o lençol das noites em que esperei que a sombra não fosse essa descontínua forma dos objetos do quarto
Me ajuda a andar ouvindo todos esses gritos a aguentar o silêncio vespertino o café quieto e o teu retrato sem moldura
Me ajuda a não esquecer aquele rosto tão familiar e encontrar suas coisas que não se relacionam a forma andar por essa cidade sem mar e fugir dos prédios que começam a esfarelar pela minha cabeça
E ela e suas palavras-cruzadas e o nome que escreve no olhar por debaixo dos óculos
Soube que foi um delírio que não encontrou a saída
que as metafísicas agora não eram bobagens
E eu penso naquela fotografia pelo concreto frio
e a falta que não desfaz
eu já não sei como te chamar
eu não acredito mais, mas me ajuda em tudo que não deveria ser mais penso nas luzes para poder voltar
Me ajuda a calar o que não sei mais dizer o que descontinua o olhar pra essa data em que te risca fora  essa música indiferente aos teus ouvidos surdos o som que não ouço mais por essa casa todos os espaços todos os vazios da falta das suas coisas desfeitas o braço que não encontra mais o ombro os dentes secos por debaixo da boca concreta e rígida e esperam os ossos tomarem os seus cabelos que caíam pela testa trincada do que pensava incansavelmente já desenganada de alguma conclusão os pés no salto e me ajuda a aceitar o espaço onde o movimento cessou
Me ajuda a mais esse dia das revoluções que pararam de fazer sentido acendo o cigarro e as pessoas aprendem novos idiomas para não dizerem o que vai acontecer
Deus, me ajuda a essa falta de nome a que devo chamar nesse calor aleatório
essa data póstuma que não passa limpa. Me ajuda.

11 de fev. de 2014

dentro dali

À Thaynara Faleiro Malta

a poeira acha o seu canto na secura do quarto que encerra trezentas possibilidades pra fora das portas que não revela absolutamente nenhum argumento de um mundo que se faz em setenta discussões paralelas de bilhões de dois olhos e uma boca e duas orelhas e escuta o telefone tocar sem chamar para efusão de hormônios na vibração divina das supercordas up down no estático seguimento do reflexo dos vidros dos carros batendo nas paredes brancas e aqui a suspensão de um mundo em vinte minutos antes do trabalho e todo seu expediente que quisera rastejar sem ser notado um dia de verão e um jeito meio lento de responder às nuances das classes e das coisas que elas se entopem pedindo cem toneladas de eletrônicos e lítios para durar o conforto de garantir que não deixou de ser chamado  pelo nome e lembrado de dentro da rua que não sabe para onde vira e como se entra na atenção do outro não sendo possível cingir esse corpo com um amor curto e dois cigarros e o descontrole de encerrá-lo ao meio pois um dia há de acabar esse toque a boca que impede a secura do ar da palavra que dali falta a poeira é pele a falta pelo o quarto em alguns elementos fartos da única e enorme presença própria.

9 de fev. de 2014

Ad ventos

sei dessa falta de som
o teclado
da tua porta
que não abre
sei do jeito como deve
segurar o ar nessa chuva
sei de tudo que eu calo
na hora de reter
esse agora que eu gosto
tanto
da palavra que seria
do jeito
do meu nome
no último trago
da ponta desse seu
cigarro

2 de fev. de 2014

postal para o porto

tenho sorte em tudo que não me prometeu
tenho conseguido com um êxito enorme
desempenhar tudo que não é meu
tudo que não me chama
tudo que não dobrou uma vírgula
do que deixou de dizer 

tenho andado por aí e entrado em estabelecimentos
para conseguir coisas que não preciso
tenho desfrutado horas com o meu 
chamado mudo 
e isso é aquilo inteiro
que não me prometeu

ouço blues quando estou de sorrisos
pra lá de nada
e prefiro ler que o tal do marcelo rodrigo tadeu
protesta contra a copa
e eu que nem ligo
e é essa a forma
que não prometo
uma menção nos nomes 
desses dias

hoje faço assim
olho pra um vinho
e por mim não faço nada
além de virar o disco
e decodificar as outras
faixas que nao leio e 
me deleito
do que nao disse que seria
e é quase como se tivesse
sido.