25 de nov. de 2009

Apresentação (da sinopse).

ou Monólogo no Espaço da Suspensão


eu preciso escrever. notei isso quando aqueles dois disseram que precisavam ir ao banheiro. imagine! dois marmanjos indo ao banheiro juntos! ouço os mais [abre aspas] descolados [fecha aspas] dizendo: e o que é que tem? não tem nada, eu ousaria. fora o fato deles trocarem piadas o tempo todo pelejando a testosterona que lateja nalgum lugar que incomoda tanto. eles se acusam e molestam o limiar frágil do que deve ou não render-lhes algum prazer na vida. prazer estranho aquele de coçar dentro da orelha sabe-se lá o que descame. coisa sádica essa de enfiar as unhas arrancando pele solta de sobra do toque que lhes faltam, e falta o bom senso: a felicidade mais possível é mera questão de tato. toquem depois de lavarem as mãos de onde querem ir, mas voltem. foram na altura do discurso quando absolutamente todos estavam ofendidos, ao menos tiveram o cuidado de se justificarem antes de se levantarem, como disse, juntos. malditos! eu não os acusavam! delicadamente pedem licença e vão ao banheiro contra todo e qualquer pedido plausível: fiquem que eu paro! mas a bexiga uma hora estoura. e com quem eu falo? estou testando a resposta do universo nos senhores: esse saco há de aguentar pela conclusão que pode me conter, senão estouro eu que estava com vocês o tempo todo até o momento da defesa fácil: "vá saber, né?!" - sempre é bom dois pés atrás. se tiraram todos da reta e passei sozinha. nem notaram que eu falava de mim e que queria palco montado, não a cortina escancarada. eu queria que vissem além da margem do filme preto & branco, não o microfone no cantinho ignorado. eu queria que me perdoassem a falta do estilo alexandrino. e responderam em dissílabo evidente. "Tá bom", deixei no recado.

21 de nov. de 2009

Sinopse.

ou Metaverborreia Retórica Ressaqueada Por Extenso.


Ela pensou que precisava escrever. Devia ser por isso esses olhares nos corredores trabalhistas. Devia ser isso os tantos bocejos escancarados feito leão-mgm-metro-goldwyn-mayer: e a história que ela começou nem era do começo. Devia ser por isso que eles se levantaram para ir ao banheiro JUNTOS sem o mínimo pudor, sem o medo da bichice convencionada. Devia ser a ausência da vírgula entre verdades concluídas com a rapidez de uma frase sendo formada entre o abrir e o fechar da boca e sim! É assim mesmo, gente. Entendam que ela descobriu a verdade do mundo agorinha mesmo - premiados sejam! Escrevam cada coisa que ela disser, andem, escrevam ou então tomem remédios pra memória, dizem que peixe é bom pra isso, peixe centrum vitaminas de A a Zureta girando descarga abaixo. Mas retenham isso tudo, anotem na palma das mãos com tinta indelével, ou melhor, tatuem na testa em desenho japonês, nanquim de cadeeiro, tinta de caneta bic que nem a Cristiane F. Marquem absolutamente tudo o que ela está dizendo. Façam exercícios de meditação para que possam envelhecer com a cabeça boa pois vocês se lembrarão de cada palavra que ela disse nesse quarto de hora. Vocês vão precisar disso. Vão! E precisam, por favor, entender que o "eu posso estar errada" deve ser totalmente ignorado e que ela ainda deve cumprir com esses protocolos de humildade pra não ser chata ou presunçosa, entendam que ela tem completo horror só de pensar seu nome descendo e subindo nesses elevadores em que a sua voz tão alta se disfarça no exato 5º andar e a porta revela um diminuto "pedante" - pedante?! pe-dan-te?! Não! não venham com essa que ela manda todo mundo se fuder e todos hão de achar um convite razoável já que absolutamente todas as suas gias vieram pela mesma janela em que você se encostava para verificar se deveria vestir um casaco ou um traje de banho nesses trópicos capricornianos. Mas ela já havia decidido por eles: hoje há de chover! Olhem as nuvens, sintam o cheiro do asfalto quente sendo resfriado, observem o comportamento das moscas que já voam com as asas receosas: melhor se abrigarem na sua garganta incessante pois ali é cárcere semi-aberto. Ela está falando, escute, escutou? Ela está falando sobre o fato de você escutar e sobre se perceber cada palavra entrando entre as brechas dos fones siliconados. Deve ser por isso que ela sempre tem essas metalinguagens tão originais, imaginem só! Ela é discípula de Machadinho (há de se encontrar intimidade entre deuses e eles gostam disso porque só pode ser deus quem sabe que é deus e deuses gostam de estar entre deuses e entre deuses que nem sabe que o são), imagine só se aquela mosca decide entrar na goela frouxa de seu interlocutor: prisão perpétua! Imaginem só ser tão esperta e tão sarcástica. Imaginem só leitores, ser leitores dessa sutileza que vos acusam disso que ela os elegeu. Ela ri enlouquecida. Imaginem se ela resolvesse escrever repetindo técnicas baratas. Leiam, porque ela pensou que precisava escrever.