E quando todos ouviram ofegantes as explosões de aplausos, agradeceram se prostrando ao deleite do público que respirara a cada estalo dos músculos, as extensões dos dedos dos toques dos suores, a respiração presa do êxtase contido na suavidade de cada articulação que se torce rígida ao sublime pisar. O peito que batuca qualquer ritmo, qualquer jazz, qualquer bolero, qualquer gole da saliva que se seca por debaixo da língua, os dentes que rangem, os olhos atentos e o baque pára baque pára baque pára baque: precisão trêmula. Dilata o movimento e toca o outro. o outro é tocado. Pequena órbita de corpos e celestes colisões de esforços. Cai no chão e reverbera a reza ao mar: rosas brancas e comunhão - os braços que dizem sim ao encontro e repelem-se pra no próximo compasso se atraírem: ressaca de ossos duros, macumba nos pulsos, nos pés que giram, giram, giram. Equilíbrios em colapso. A transa, o som, eles. Desloca-se do centro e sai.
17 de jun. de 2011
4 de jun. de 2011
é só algo lá dentro.
Quando aos sábados de manhã sinto uma vontade enorme de ligar. chamar pelo telefone e dizer algo do tipo: "como tem sido isso tudo pra você?" - olho para o telefone imóvel em cima da estante e já antecipo o sentimento: "O que é isso que estou fazendo?". Entende? Porque às vezes não é nada, as coisas não tem sido nada pra ninguém. Aí eu penso nas ruas, em relógios de ponto, catracas de ônibus, senha de vale alimentação, fila de bancos, cadastros no site de emprego, contas e dígitos e absolutamente nenhuma poesia nas marteladas semanais do prédio em construção logo aqui do lado. Respira, vai pra pia lavar a louça, tire as migalhas do café da mesa para poder almoçar com mais dignidade, acerta o tempo do despertador e ouça uma canção qualquer do rádio que fale de um amor tão distante como trama de novela de algum canal de siglas da tv aberta. "e como tem sido pra você?" - seria a pergunta: é como tem sido pra qualquer um. troca o canal que traz as notícias de esporte e constrói um caminho mais rápido para os correios: remessa de documentos para provar o meu nome na portaria do prédio comercial: nunca estive aqui e eles nunca mais irão me ver quando subir no ônibus que quase perdi. Meu olhar se deteve em alguma vitrine: liquidação. Volto pra casa para recolher roupas e me sento na ponta da cama amassada: serras e montanhas de desassossego nos papéis espalhados pelo chão. Uma aranha mora por aqui, mas nunca a vi além da formiga morta que caiu na armadilha mais óbvia de todos os tempos. O drama mais óbvio de todos os tempos. "E como tudo isso tem sido pra você?" - pergunta de gente mal disposta. Entra no quarto, liga a TV que a vida passa e bate um vento lá fora.
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