27 de mar. de 2008

Semáforo


"Diálogo de surdos, não: amistoso no frio.
Atravanco na contramão. Suspiros no
contrafluxo. Te apresento a mulher mais discreta
do mundo: essa que não tem nenhum segredo."
AnaC

O semáforo demora a abrir. Ele me disse que seria mais fácil se a vida sempre tivesse esse tom onírico. Seria eu concordei sem responder. Mas sabe que a primeira luz do dia a bater no quarto enquanto ainda dorme já traz consigo o mormaço da lucidez e uma hora é preciso sair de casa se agarrando ao batente da porta. Foi na primeira página de um livro o qual abri aleatoriamente que dizia que a cidade canta. Canta mesmo. Num emaranhado de motores, concretos e suspiros. Já não isolo o que ouço ou o que vejo por aí. É tudo um bloco de ondas sensoriais que decorei do caminho de casa ao trabalho. Não penso no tempo além desses segundos em que aguardo. Conto planos frágeis sem entusiasmo ou pretensão de acontecer. Ele escuta. Mais cinco minutos entre as duas mãos. Atravessa. Corre. Chega logo a algum lugar. Que não encontra. Ele ficou do outro lado.

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