11 de mar. de 2008

Síntese.

Devemos ser feitos de coisa mole que seca. Ou daquilo gelatinoso que vai adquirindo uma casca. Se endurece por dentro e por fora e a certa altura algo começa a se tornar imoldável. É que passamos do ponto e as formas ainda não se definiram e talvez seja aí que nos damos conta de que será assim mesmo. Tenta-se por dentro expandir-se o que é por fora, mas o espaço é cada vez menos flexível e as superfícies se enrijecessem com a atmosfera do tempo. Aí que se diminui. Se condensa a ponto de pedras e o que não tinha toque agora tem. É que aquele vapor de tudo o que pensamos pela manhã, antes mesmo de se definir os movéis ou datas, se solidifica nos resquícios dos travesseiros e se mantém durante todo o dia de uma casa abandonada. Haverá pregos que não passarão pela sola do pé, eu sei, e a expressão não mudará a um possível reconhecimento nos transportes coletivos. O Outro não entra ou tampouco passa. Aceita-se as durezas e o encontro que não se encaixa. E no fim fecha-se. Encerra-se.

4 comentários:

Everaldo Ygor disse...

Olá...
Um intenso e belo texto, por não dizer duro até...
Assim somos, ou ficamos duros demais, toda essa informação, a internet, esse tempo atual, parece embrutecer as pessoas - distanciar... A poesia, a escrita toda tem o poder de aproximar, de contar de forma poética um desabafo, um pensamento, uma obra como a sua... Sensibilizar.
Ótimo texto - ótimo blog!
Abraços
Everaldo Ygor
Visite:
http://outrasandancas.blogspot.com/

Alberto disse...

O Everaldo já disse tudo. Resta-me escrever GOSTEI.
Beijo Thais.

Flavimar Dïniz disse...

Vai passando o tempo e cria na gente uma casquinha, tipo de pequenos machucados. A gente pensa que ela vai cair quando o que está por baixo cicatrizar, mas ela continua lá, firme, forte e resistente. Se a gente cutuca e tenta retirar, ninguém sabe o motivo, mas ela se revolta, fica mais presa à pele e, se cutucamos com mais força, sangra, infecciona e a gente morre.

A Photografia disse...

Penso que nos penso mais como algo que se refaz na sua forma, feito casquinha de pereba que a gente vai tirando e retirando, ela vai ficando alta em algumas partes e um buraco em outras... Sabe? Mais mole e mais carne mesmo... Do que essa coisa assim... Que”não passa prego”... Penso que nos deformamos do tanto que nossa carne é mole sim... E a gente vai ficando bonito ou feio da maneira de nos desfiguramos... Porque a deformidade é que nos compõe. Não nos imagino tão densos... Ser denso me lembra alguém que estagna... Que não evolui da forma mais intrínseca que isso pode ser...