8 de dez. de 2015

repriso

e repriso _ Não por dentro corpo e suas dimensões, mas exatamente no meio dessa noite recortando sombras, esperando vozes quando o que essas mãos poderiam fazer é afiar as lâminas do resto das horas.
e repriso _ Não pelo suor que escorre o resto de pele, mas pelas unhas que arranham as dobras que me cobrem enquanto contorno marcas que nivelam o desespero, o tempo, a persistência depois daquilo que não ficou.
e repriso _ Não pelo chamado oco, mas pelas cordas que prosseguem tensas, o volume da minha respiração que assusta quando suspendo o próximo segundo antes de reprisar:
_ Não pelo grito, não pela rua, não por ninguém, mas pelo o que não pode ouvir através da porta que mantém o que seria e encerra em suas extremidades o que não quero responder:
repriso.

6 de dez. de 2015

Quisera

Deixo pra depois
o toque que ainda
não decorei
e se essa noite infida
te falasse de tudo que sei
o que rompe aquilo que queria
e completa o
que decorei
e acaricia pelas horas
o que deixei
afora o teu nome
que te dei
e toda a minha fome
que me acompanha
pelas partes que deixei torta
diante do som que arranha
as margens que caminhei
pela curvas que borra
a poesia de ninguém
mas volto no ritmo
além
o movimento dos lábios
o som que desvia
Esse jeito que seria
eu só e o que faria
de mim mais de ninguém.




25 de nov. de 2015

Hoje senti que precisava escrever

Hoje senti que precisava escrever 
quando o mais natural era correr 
descalça 
da minha porta até a fresta do seu portão
de onde disseram morar
e aos berros
causar problemas entre os condôminos
provocar reuniões
multas
Estatutos
Pegar um táxi e voltar do mar até
o rio
pagar com um cartão onde
se leu aquele sobrenome
que a tua respiração engoliu
fazer ameaças de bomba
no último vôo 
antes do natal
ser notícia infame
no meio do meu jantar
em que teu gosto inflame
aquele outro mastigar
de noites;
É que preciso escrever
quando o mais natural
era perder o bom senso
era traspôr qualquer caminho
denso pelo início de você.

21 de jan. de 2015

Arrumar Malas

É bom colocar no fundo o que não será usado, volte que os fragmentos da viagem podem solicitar um movimento diferente dos joelhos. 
Na sequência do meio, obviamente, se coloca o que se pode julgar como mais importante, é o que está entre o não usado e a superfície que será amarrotada com essas indas e os pedaços que nos deixamos por aí. O que se estraga é a composição dos eventos. 
Eu pego na mão de quem me chama, os chinelos sempre ficam em sacolas plásticas, mas é importante não ignorar o fato que andar descalço pode causar bolhas, embora não importe.
A mala continua vazia, mas estou indo te ver.

19 de jan. de 2015

teorema climático

o problema não é você
o problema é sol que queima você
o problema é o forno que não assa pra você
o problema é o ar condicionado que entope pra você
o problema é a temperatura que não combina com o modo que você pensa
o problema que pensa do que penso de você.

14 de jan. de 2015

geografia

pedir por dois poemas
num dia
é querer se por demais
no que não escuta
como A Jamila
que ia na padaria
e não ouviu a buzina
que não tocou
ela atravessou na faixa
embora distraída
mas aquela
aquelazinha
só tava precisando
não fechar nenhuma
rotatória
bem confusa
nunca sabe por onde
sai
ou se entra

mas as ruas se
transpassaram
para a outra
no jogo de ameralinha
corta
eram dois poemas
não três pessoas,


Carta de Belo Horizonte

Na cidade onde vivo há tempo pra falar de nada, há tempo de reverter o silêncio, há tempo de tomar mais uma pois não há metrô e tudo se perde em carona, dormidas e banho acolhedores, em clichês no meio de tudo e um sorriso que é possível prosseguir com o que se fala. Nem sempre é preciso ser rápido, mas não se prolongue demais que cansa mais o que só. Ainda podemos dizer que escrevemos poemas ou qualquer coisa porque em mais de três cafés é possível saber que seu interlocutor também tem um blog que ninguém lê e rir tanto disso sem se tornar uma poliana decapitada com um sorriso duro. Há nomes de ruas e nomes de pessoas, mas respeito as coincidências, pois na cidade onde vivo ainda há tempo de repetir o isqueiro deixado em cima da mesa e ler isso falando com me chamo aqui. Se quiser que fique mais bonito, ande por onde andei, o nome da cidade é o que não preciso ser literal, apenas ingênuamente contínuo.

13 de jan. de 2015

Cartão Postal do Campo Limpo

Para Felipe Cursino

Que recebi do meu primo
com urgência e letra
cursiva um pouco
calma um pouco
tremida

Os metrôs não davam
ritmo
a palavra se perdeu
no seu sorriso
no teu fio
de alegria

Que chegou aqui
e mandei outro
de mim

12 de jan. de 2015

ciclismo na pampulha

melhor diminuir um pouco
a velocidade
atrás e arranhar
na frente
a contramão
da cidade
inteira
como se fosse
brincadeira
esse jeito de ir
até o lugar que
que me trás pra
cá.

11 de jan. de 2015

Yeah you!

para todos os meus amigos que acredito ter

não vou pensar muito. as linhas vão seguir e vou me ler pra você: tenho nos dedos um cigarro de palha que não importa a marca. o que importa é a lembrança dos dentes quase meus quase dela. os sorrisos irritantes e o contorno da falta de paciência, por falar nela, o que importa é você que penso o tempo todo. Até mais, até mais cafés, chás, esmaltes de qualquer cor. Minhas unhas comidas - imagina o resto que meus dentes não chegou a ferir. O dedo e a ponta dele que aponto em mapas digitais. Digo agora: Espero: They don't love you like I do. Volto para meus amigos e digo que sempre estive por perto - persisto - como ele me disse e agarro isso tudo com a força de quem pensa muito e sempre, eu disse, sempre termina no mesmo lugar com uma unha a menos e um sorriso qualquer, que é pra você.

10 de jan. de 2015

breakfast at sex pistols

xadrez de plástico com imã
embaixo
explicaria os atos
de ontem
mas a rainha recusou
o chá e eu continuo
com café e uma
sacola
de
futuros
mei queimada
nos fundos.

Não ateio fogo
mas apago mal
a brasa do
almoço.

À noite é de todos
as cinzas e todos
os nós.

8 de jan. de 2015

I'm not in Paris

o que convém
é o meu rastro
é o gosto
do lápis
e o que ser
arranhado
garganta
de baixo
pra nada

Decora que fica
mais fácil
entender
o cheiro do
chá

Decora e entenda
que não falar
é som que sai
mais fácil

Decora tuas honras
medalhas e camisas
cuidadosamente
dobradas.


7 de jan. de 2015

Colores Cantada

Hoje estou querendo a cor
da sua camisa
blue

Hoje estou querendo
me apaixonar
rojas




Como era os círculos
dessa Terra
e eu correndo
na sua velocidade
estática até
que se aproxime
o meu medo
de eletrochoques
e buzinas
daí como se
não falasse nada
o espaço e o silêncio
as metáforas e as
línguas.

6 de jan. de 2015

Mazes

Para João Vítor

pro diabo você e suas escolhas
pro inferno esse jeito só seu
de se sentir bem,
pro diabo seu vinho e sua
embriaguez
pro diabo a tua raiva
teus cortes
teus raios
pro teu bem tuas
rimas
tuas anas,

Mas que te sintas bem
pro diabo
sou eu sem você
pro inferno essa falta
certa que vai me
comer nos primeiros
dias e depois, sabemos,
pro diabo isso que
não podemos ser.

Que seja a sorte
que rolem teus dedos
apontem de mim
ao norte
o que se retém
pelo nome.



De guarda

É claro que eu queria
que o dia viesse
que os pássaros
cantassem
que eu te visse
mexendo nesse
modo de se
comunicar
consigo
e é quase
como se
eu não
conseguisse
roubar

5 de jan. de 2015

Vá pra cá

Vai dizer que não posso dormir              
como se dormir é bom
é?

Não determina que não diz com
as mãos que são boas
foram?

Não estou falando de mim
o tempo todo
estou?

Fórmulas prontas dizem de
você como deu,
pensa.

Pode ser tarde demais
para perder o sono
pode ser?

Pensando aqui eu posso continuar na noite óbvia demais até
saber onde encontrar
o prumo
pensa?

foi o que vai fazer.


4 de jan. de 2015

punch down

I've done all I could
until I couldn't recall
what I've done before
I appear

Silêncio Cíclico

eu não sei o que dizem
do paiol que dizem
que faz mal que dizem
que dirigem esquecendo
do chão embaixo
do chinelo de dedo
e dos jogos de azar

eu não sei qual é
o melhor momento
para ler o poema

quero apontar sobre onde nunca fui
e sem graça levantar
removendo a poeira
dos meus ouvidos que
te ouvem dizer até o que
eu não sei.

2 de jan. de 2015

Blurry

sempre fui míope
sempre não
quase sempre
não vejo como vê, mas
veja aqui
eu enxergo devagar
com preguiça

Talvez acorde cedo
para ajudar nas louças
ela é tão bonita podando
as plantas com seu
cigarro

Pendurado no canto da boca
a paciência
nos lábios que beijam e ainda
dizem

a verdade que detesto ouvir, mas que são
meus óculos que sempre perco pela
manhã