16 de fev. de 2014

diário de domingo

Deus, me ajuda, Deus
a aguentar as trepidações do passo que não encontrou mais a plataforma
Me ajuda a sair daqui sem saber que no fundo das ruas vou encontrar o rosto desconfigurado de um dia anônimo em que nada acontece para todos nós
Me ajuda a passar  por milhares de repetições e descobrir cada um dos seus movimentos e não poder mudá-lo e ela só sai de casa para ir ao supermercado olhando para o céu por desconhecer esses rostos ela só quer o teu da linha da tua camisa que era o lençol das noites em que esperei que a sombra não fosse essa descontínua forma dos objetos do quarto
Me ajuda a andar ouvindo todos esses gritos a aguentar o silêncio vespertino o café quieto e o teu retrato sem moldura
Me ajuda a não esquecer aquele rosto tão familiar e encontrar suas coisas que não se relacionam a forma andar por essa cidade sem mar e fugir dos prédios que começam a esfarelar pela minha cabeça
E ela e suas palavras-cruzadas e o nome que escreve no olhar por debaixo dos óculos
Soube que foi um delírio que não encontrou a saída
que as metafísicas agora não eram bobagens
E eu penso naquela fotografia pelo concreto frio
e a falta que não desfaz
eu já não sei como te chamar
eu não acredito mais, mas me ajuda em tudo que não deveria ser mais penso nas luzes para poder voltar
Me ajuda a calar o que não sei mais dizer o que descontinua o olhar pra essa data em que te risca fora  essa música indiferente aos teus ouvidos surdos o som que não ouço mais por essa casa todos os espaços todos os vazios da falta das suas coisas desfeitas o braço que não encontra mais o ombro os dentes secos por debaixo da boca concreta e rígida e esperam os ossos tomarem os seus cabelos que caíam pela testa trincada do que pensava incansavelmente já desenganada de alguma conclusão os pés no salto e me ajuda a aceitar o espaço onde o movimento cessou
Me ajuda a mais esse dia das revoluções que pararam de fazer sentido acendo o cigarro e as pessoas aprendem novos idiomas para não dizerem o que vai acontecer
Deus, me ajuda a essa falta de nome a que devo chamar nesse calor aleatório
essa data póstuma que não passa limpa. Me ajuda.

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