24 de mai. de 2009

conversa da ponta da mesa.

Começo a dizer porque estou sentindo vontade de me ouvir nessas expressões que você faz a cada palavra que vou dizendo sem pensar. E tudo ouvido assim tão de perto parece bobagem, então o silêncio veio a confirmar que essas bobagens fazem sentido. É quando comento do que vem e do que vai enquanto você junta para o centro da mesa os grãos de sal que erraram o prato, é quando te falo de medo e você procura o isqueiro na bolsa sempre tão cheia de coisas como se nunca mais fosse voltar pra casa, é quando esbravejo maldições ao que existe por alguma corriqueira auto-frustração enquanto você se vira procurando o garçom e eles sempre com essa mania de nos ignorar assim com tanta sede e tanta urgência de nos embebedarmos para o entreterimento semanal, é quando começo a falar de amor e você ri das reminiscências de algo meio caipira no meu sotaque que muda espontaneamente em cada situação como se não fosse de lugar algum e de todos eles, é quando menciono permanência e você me pede lincença para ir ao toilet, sim, você diz toilet como se esse cubículo impestado de aromas ilícitos fizesse juz a tal designação, é quando percebo que estamos todos falando sozinhos enquanto você me escuta e responde: eu também não quero ser só me contando qualquer caso da semana passada e tento limpar o borrão indelével das lentes dos meus óculos, mas o pano da camisa é sintético e só espalha essa nódoa que se evidencia quando te vejo contra a luz. Então digo intermináveis trivialidades te pedindo pra ficar e você consulta o relógio. Ainda é tempo para você reparar na blusa estranha da moça que passou atrás de nós me dizendo que sim. E eu prossigo.

3 comentários:

Leandro Figueiredo disse...

O silêncio é uma grande besteira. O silêncio só é melhor do que falar toda a verdade. Sim, porque se falarmos toda a verdade perderemos todos os amigos.

Júlia disse...

genial.

vanessa reis disse...

bom da menor à maior intensidade.