25 de jan. de 2014

pela metade

tentava assistir um filme argentino
acho que vi algo parecido em ingles um dia
um taxi driver portenho

nao li o livro inteiro que ela me emprestou
acho que nao pretendo devolver
o que ela acreditou 
que eu podia
concluir

amanha talvez eu nao faça nenhum mantra
nao defenda a classe oprimida
ja resolveram a falta linha
da riqueza paulistana
em algumas
gotas sublínguais

Já tentei remover todos os anúncios
maliciosos da minha janela
e só tenho paciencia para um beijo
e algum silencio

e eu querendo devolver com uma citaçao
em portugues
do filósofo
que nao me dei ao trabalho de ler
eu disse

eu nao leio
mas seguro bem as cigarrilhas
e sinto o gosto no fundo da colher
e faço preguiçosas massagens
cardíacas
dessa pessoa tao normal

nunca tratei de fotografar esta cidade
acredito que nao vivo num filme
acredito que nao há prostitutas nessa rua

vizinhos discretos e a cada ano
mudam de carro
(tres anos é o tempo máximo)
o seguro da tua conversa insólita
ninguém me garante

ainda vejo as árvores
nao reviso rimas
nao reconecto tuas linhas
que vieram dos teus dedos comidos

a divina secura na boca
vai chamar a última ligaçao
gravada insistentemente

sei das coisas do seu quarto
e tudo faz mais sentido
quando limpa os cinzeiros
e joga no fundo
essas olheiras de me ver

as pessoas morrem ou vao pra europa
as teias devem ser retiradas com uma vassoura
limpa
porque as paredes precisam
nao oferecerem nenhum ponto de fuga
que é pra eu olhar
e nao ver nada

te ligo mais uma vez
pego dois onibus
e volto

sem nunca devolver o livro
longe de fazer sentido

removo a conclusao
te ligo
no quarto toque
desisto 


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