13 de abr. de 2024

rio 2016

Porque raramente esqueço de
Algo que vem da espinha
Se fosse reto
Seria minha estrada
Do fusca que vi passar
Na janela 
Coisa amarelada
Coisa de voz
Coisa transmutada
No teu som
gargalhada
Xiado de passagem
Com

5 de abr. de 2024

Em Sto André

À Fabiano Calixto

Você me convida em
Thirty-four
Eu penso ser 
Easy
Isso de falar de Vampiros
A noite inteira
Torquato
Juro que flor de
Maracujá
Foi-se na intersessão
Daquela madre
Que ajudou matar
Completo ainda
Ao ver no seu roof
O remédio que insistia
Em te fazer virar
E um papel
Rooftop
Escrito
Smile.

4 de abr. de 2024

Espera de que quinta

Se demora
Agora
É o tempo que eu conto
Ou que melhora diante
Da espera no ponto de ônibus
Daquilo que eu queria te contar
Daquele lance que não pra
Resolver diante de imitar
O que percorre
E me é
Do jeito de calar

22 de mar. de 2024

primeira hora

Hoje recomeço a estudar
Como se fosse brincadeira
Esse negócio de
Suturar o ouvido
Como se fosse
O primeiro tiro
Esse negócio de 
Amar a filosofia
Esse negócio de
Armar quem nunca
Te ouve.

15 de mar. de 2024

Monodrama

 À Carlito Azevedo


Perdi a minha mãe faz sete anos. Sete anos sem Liana Monteiro. Nada me distrai quando falo dela. Nada fala para uma filha sozinha, a ouvir o ventilador, com a casa arrumada e sem nada a fazer a não ser, tatear memórias, todas no fundo dela, todos os poetas, todos os Carvalhos Neto. 

Quando se perde uma mãe, torna-se orfão. Quando perde-se um irmão a vida continuar. Não há depressão que não fale de amor. Não há terrorista que cale o grito de chamá-la, mais um vez, somente pelo seu perfume de rosas, de um pó no fundo do caixão. Não há saravá. Não há nada de espetacular na morte e ao lado dela. Há somente este eterno tentar, estudar, saúde e nada.

Um irmão perde-se no metrô.

5 de mar. de 2024

Marielle

Não há voz que cale a nossa
Não há o mínimo silêncio
Dela
Não há amor que cure o 
Nada. Silêncio a arma
desarmada. A tua
Mônica despedaçada. 


Não há harmonia que

Desapareça

No samba.

29 de fev. de 2024

Roleta Russa

Sinto na ponta o gatilho
Milho que nu não
Emparelhaste, segura
Aqui o gatilho,
Faz estribilho com o teu
Violento
Brilho.

13 de fev. de 2024

Ballet de Cor

Ao Raphael Câmara

Ainda lembro
de tudo
do sorriso
da piada
do mundo
da Serra
do isqueiro
da fila
da fugida
no Casa
Antiga
do
Karaokê
da sua mãe
do seu carro
do por quê
de Cannes
do Relógio em
Santa Tereza
do copo deixado
com pressa
em cima da mesa
da testa
no sol
do Papa
do centro
do Galo
América
do que está
dentro
dos corredores
das
Letras
da biblioteca 
pouco frequentada
da ex-namorada
chata
das enroladas
do bolo
do domingo
perdido
da noite rápida
do silencioso
jogo de facas
das tantas
vacas magras

Agora vejo que em todas
moradas
você me cabe
você me é
afora o som
do teu rádio
afora o grito
adequado
você me faz
unissona
nas ondas
da nossa cidade
você me acerta
em meia dúzia de
verdade
você
não
termina
você
não
combina
em
desaparacer

Somos os que sempre voltamos
Somos o que sempre somos
somos três toneladas
de
sons

Linha contínua
que insiste
Luz retilínia
que incide

Voz que procede
Sede que cede
Corpo que pede
peso

Mão que nunca esquece

OUÇA

12 de fev. de 2024

Que a mão que estende
Se falo é o que me conforta
Teus dedos entrelaçados
Às todas as cores
Das manhãs
Que procura o toque
Que dá sentido
Ao estrondo recolhido

Vivo hoje para reparar
As arestas dos prédios
Ao entrelaçar
Os cabelos na esquina
E dizer que me ama

Afora o medo das raízes
Ressucita o meu encontro
E reafirma o toque
Os papéis perdidos no apartamento
Se o tormento

Do que me deixa
Reconhece e afirma
Continua sabendo
As falhas dos meus passos

Olho para você
Deixo as filas do acaso
Me dá a direção
Entre metafísicas
Na fila do mercado

Vou escolher
Deitar
E terminar esse cigarro

Talvez me case
Talvez retenha
Talvez me cale
Talvez desista


Desse verso para estar

Ao seu lado



13 de abr. de 2017

breu de fala

disse-me que pusesse-me calada, que não dissesse coisa alguma: coisa de livro na estante, coisa de observar a capa e suas rasuras, mas que fosse incapaz de abri-lo. um corpo parado na biblioteca de alexandria, que não ousasse abrir palavra alguma, que andasse por seus corredores sem evocar mistério algum. mediu, mensurou o peso das memórias e reclamou da bola de ar que emerge na superfície da piscina, indo ao encontro do espelho d'água com violência, julgou que era prudente deixar nossos reflexos intocados para que não entortasse nossas feições. o que eu diria? calei-me diante do grito ancestral que transmutara noutra garganta, noutro gesto. deixa-se a coisa em paz. dei-lhe o sossego da ausência, a paisagem quieta desse país onde nos colocamos como espectadores impassíveis, a atmosfera do museu onde só as madeiras estalam, onde a quietude se quebra numa anunciação do que agora já se faz mudo com a estrutura esmiuçada diante do desespero que nesse instante não pode mais pegar pelos cabelos. encerra-se. deixa que o peso se abrigue num dia frio, continua a andar, pensa em coisas sólidas, da dimensão do corpo, nas pontas dos dedos, deixa que tudo é de uma pequenez que ensaia grande propósitos: o que deveria envergar é o que circunda, não o que sai de dentro. caminha, olha a cidade, estabelece dentro dela uma rota certa e evite girar no meio da calçada, pelo menos uma vez é melhor calar-se e deixar que a película nítida do dia furte ao fosco tom do que não se para de repisar, pelo menos uma vez é bom observar que a chuva de palavras no fundo da memória deveria afogar somente aquele que ousa se encher dos sons ora próximos ora distantes e que o fio que amarra todas as linhas reside no próprio emaranhado.

_ não há navegante que não fale do mar.

10 de abr. de 2017

Dobra do Nó

Ela diz que voltei
a sonhar
Que as linhas se sobrepõem
Que deixo pra lá a política
Que afasto meu pé do terreiro
Que vejo o mundo nítido
Que penhore as dores
Que melhore a imagem
Que esqueça tendências
Que escute

Ela diz pro ar circular
Diz que é pra esticar o fio do novelo
Andar e mexer no cabelo
Parar de evitar
a sombra do espelho
Diz que tudo vai melhorar
Para mostrar o verso numa roda
e me lembrar sempre de me olhar

O celular vai tocar
Não preciso fazer dívidas
Não preciso barganhar amores
Não preciso rir dos deputados
Todos loucos
Todos tortos
Todos prontos para babar no discurso da Câmara Nacional

Ela me diz para olhar pros lados
Para ser breve
Para não esquecer a bicicleta
Para tomar conta do cachorro
Para tomar o ar ao falar já que a gota de desespero secou

A escrita nunca deixou de falar
Nem aos hindus
Nem a Célia no meio do bar

Ela me disse para tomar cuidado
Virar o discurso
Empacotar vocativos
Ligar o Spotify
Caminhar perna por perna
Não disseminar o
poema
antes do galo cantar
Que o mundo vai acabar
Mas antes
É bom dobrar as cobertas
Treinar o inglês
Procurar um emprego pela Catho
Atualizar as notícias
e pensar no corpo.

Ela disse que está
em todo lugar.

6 de abr. de 2017

Mala na Cama

Á Denise Belo

A mala mais uma vez defronte
Coisa onde se guarda o que
Estronde esta vontade
de sair
De fazer mar onde
se esconde o
ar que mais
denso
responde à
capacidade
de submergir
em ruas
semáforos
aos sinais
aos transeuntes
às espirais
ao manejar
ao que circunte
por necessidade
essa maneira de
gritar
essa vontade de
ver
o mar
de voltar
a ressaca
ao respirar
do verso
esticado
em peças
desertos
utensílios
a bolsa
aberta
e a vontade de te ver



26 de mar. de 2017

Sunday Mon Amour

O tal lance do poema
Depois do almoço
Guardar todo o esquema
Entre um caroço e outro
Da sobremesa

Pedir mais um pouco
Do suco
Pedir mais um criolo
louco na cerne
do sumo

Assistir TV
Pensar no filme
Evitar a vontade de ter
Pensar no filme
Evitar o gosto acre
Pensar no filme
Evitar o sólido desgaste
Pensar no filme

Arranhar o céu parado
Agarrar as horas
Fumar três maços de cigarro
Perder a demora
Perder a tarde
Perder o fim do dia
Perder o fim do bom senso

Ir embora
Dizer tchau
Chegar a porta
Acertar o plano
Em que tudo melhora

Mirar o degrau
E saber que não volta

24 de mar. de 2017

Dona de casa

à Ana Elisa Ribeiro

Há sempre o lance de não conseguir ser rápida
Há o sutil detalhe da não proceder com a falha
Há o desgaste de não engolir o tal canalha
Há sempre o incômodo de ser fazer à prática

Há essa coisa do incomodar o senhor
Há essa merda de falar do filhos
Há essa porra de aquietar o terror
Há esses amores a remendar fundilhos

Há a agonia
Há a vontade
Há a pilha
Há a covarde

Há a mesa virada
Há essa desvairada
Há 1/4 de porrada
Há ainda as desajustadas

Há ainda aquela que não sabe de nada

23 de mar. de 2017

No meio da rua.

É um sopro no peito
Toda vez que
te vejo
ir

(o sinal há de abrir)

É a sombra dos sujeitos
silhuetas contornos
os passos a
te pedir

(o sinal há de abrir)

É a imagem do espelho
a linha do rosto
o passo torpe
a conduzir

(o sinal abriu)

O tombo

_ Amigo vem aqui,
não sei onde me volto
que não sei por onde
te perdi

_ Amigo eu caí,
não sei onde que encontros
a estrutura do escombros
daqui

_ Amigo eu abri,
a carne e os encontro
a criatura e seus
pontos frágeis
pra mim

(o sinal vai abrir)

Fica o passo além do 
joelho
Fica o toque e tua
língua
que já não mais
entendo
Fica esse corpo
perdido
No asfalto
Casa, toalhas
e o assoalho
Fica chão, o gosto
que não te ata

(O sinal abriu)

Passa lá pra me ver
Concluir o que sobrou
de você
Ver na feição
o espelho fraco
o borrão

Passa lá pra te ser
Subjulgar minhas dores
dizer que não foi nada
pendurar o resto desta
morada

Passa lá que eu te espero
Passa lá que ainda falo
Passa lá que ainda quero
Passa lá que eu paro

Ouça