31 de dez. de 2014

Mania Enraizada




eu vou tentar correr atrás do tempo
que disse não.
O contínuo se enrosca
tu cabellos
pela incerteza que não mira esse olhar atento até onde vai,
esse sinal que me manda seguir
horóscopos
de la misma

30 de dez. de 2014

Eu também já tentei ter uma espécie de coletivo

até que os sobressaltos disseram que era evidente que ele
não escreveria poesia pq haveria de melhorar em algo
e, sim, ele era o melhor
já os outros, todos se deram bem na vida:
uma publicou dois livros
outro foi pra Europa
eu ainda ofereço línguas
melhores do que todos viveram
ainda não sei se quero estar onde estou,
mas estou
aqui pensando em cada um deles e acho que o strike back
disso é que relemos e nos vemos de fora
como disse ao rapaz dos olhos mais livres que pude ver
mas o que queria dizer
é que estou pensando no melhor deles
que são todos
que eram o que fazíamos de melhor

Mas lemos Carlitos, Carlinhos, Cartas
e de cada um soube ver que o que importa é ser
forte o bastante pra ficar perto daqueles
que, ao seu modo, de usar ou ser usado,
saber conectar a força de um cavalo pedindo água e
ainda assim alisar sua crina.

29 de dez. de 2014

Cartão Postal da Lagoa da Pampulha

Liguei o ventilador no modo
que quis
aconselhei os três
sentados perto da lagoa
se fosse boa
bebia
pau e canoa
pra contar com quanta
cana se faz
um


28 de dez. de 2014

Se neste momento



À Denise Rodrigues

a persistência de certos sentimentos dói...
Amanhã brindaremos à impermanência de tudo
comento autoria?
responde polifonia
a coisa acontece safely
e prossigo
só seria
possível se o som
soasse como o descompasso
que inspira e solta
disfarçadamente
pela gap do que não me diz.

22 de dez. de 2014

Spotless (joga no google)

ao que me parece o google anda mudando meio rápido e eu também.
ao que parece meus pensamentos andam ficando muito rápidos e o seu também, ou talvez não.
o fato é que eu quis o ano inteiro te escrever um poema, que sempre julguei ruins, ou que alguém me convenceu que eram ruins, ou que eu mesma me convenci que são ruins.
mas isso é papo idiota, coisa de escritores egocentristas demais
mas o fato é que quero dizer cada vez menos, ser cada vez mais amena, cada vez mais suave.
o fato é que tentei o ano inteiro escrever um poema que dissesse algo bom, mas não rolou, sabe.
o poema é pra você.
que cantei no chuveiro.
o poema é pra ser bom, mas pode ser ruim também.
o poema pode ser o que quiser, o poema é ele mesmo.
mas ainda quero ser clara, muito clara, mas muito clara que o poema é pra você e não pra mim, mas é que a coisa é que eu e você o tempo todo de um jeito rápido demais.

José cometeu erros. Clara também. Mas podem viver bom momentos. E depois releio a merda toda e e eu tô te falando é que você me traz paz. E você me faz bem. Mas quero fazer bem.


Em todos os casos, polissêmicos, quero ser quem eu sou. e espero que seja como é no universo imaginário e a sorte da tranquilidade do seu riso.

17 de out. de 2014

Sempre escrevo melhor quando escrevo cartas. Sempre precisei desse ar de aprovação para poder respirar ou simplesmente para lembrar que preciso de fôlego do suspiro de qualquer um que me diga sim. Que me diga sim. Esse sim vem como um pêndulo do contrapeso que sopro dizendo não. Eu digo não o tempo todo pra mim. Quando me aventuro assim como todo não também escuta um sim, prossigo com qualquer coisa até dizer não novamente. Nisto ficam as coisas inacabadas: uma tatuagem, um curso, uma bicicleta encostada na entrada do meu quarto, receitas de cinco meses atrás. Tratamento interrompido. Cartelas de remédios guardados esperando a data de expirarem. Ódio com hora marcada para abrandar. Volto a dizer sim. Depois de amanhã eu digo não. Nos diários de dois anos atrás há nomes que não ficaram, havia ainda esperas de sim. Violão que só sabe três acordes. A música parou. Há uma espécie de ruínas de coisas interrompidas nesse espaço. Espero morrer fazendo planos para o churrasco de amanhã, haverá cerveja e a espera que a embriaguez seja bem executada. Há um dente que falta nesse sorriso e agora não é sonho criptografado nas teorias no xerox cuja leitura não venceu a segunda página. Texto inacabado esse. Digo que não. Era uma carta, era para ser. Mas não.

27 de fev. de 2014

Sol Menor

às vezes queria me deitar com ele
dentro daquele silêncio de pedras
onde os sons abafam 
o calor de uma dor localizada 
no meio
da testa e se localiza a profusão
dessas opiniões 
ali o sol brilha filtrado da data que 
não dobra
naquele exato ponto
em que as facas exatas
perdem o seu fio
e o medo do segundo que transpassa
os pés
já não confundem
a rua paralela 
ao amanhã

19 de fev. de 2014

poema prostrado

vou assoprar aquele zumbido da
curva dos teu brincos 
pra dizer uma rima ruim do
gosto de tarde que reclama
classificando panfletos
de poemas da classe média B
pra vender pela bahia daqui
a disritmia das tuas noites
que é pra evitar
a sessão de zines
forjadas no risco
de desaparecer
dentre a arquitetura
parada em sombras
e que nem sabe de quem
disseminar teus segredos sem senhas
quatro gotas de conselhos ditados
balanceando ideias riscadas das listras dos
dedos que come nas tardes postadas
de nada

16 de fev. de 2014

diário de domingo

Deus, me ajuda, Deus
a aguentar as trepidações do passo que não encontrou mais a plataforma
Me ajuda a sair daqui sem saber que no fundo das ruas vou encontrar o rosto desconfigurado de um dia anônimo em que nada acontece para todos nós
Me ajuda a passar  por milhares de repetições e descobrir cada um dos seus movimentos e não poder mudá-lo e ela só sai de casa para ir ao supermercado olhando para o céu por desconhecer esses rostos ela só quer o teu da linha da tua camisa que era o lençol das noites em que esperei que a sombra não fosse essa descontínua forma dos objetos do quarto
Me ajuda a andar ouvindo todos esses gritos a aguentar o silêncio vespertino o café quieto e o teu retrato sem moldura
Me ajuda a não esquecer aquele rosto tão familiar e encontrar suas coisas que não se relacionam a forma andar por essa cidade sem mar e fugir dos prédios que começam a esfarelar pela minha cabeça
E ela e suas palavras-cruzadas e o nome que escreve no olhar por debaixo dos óculos
Soube que foi um delírio que não encontrou a saída
que as metafísicas agora não eram bobagens
E eu penso naquela fotografia pelo concreto frio
e a falta que não desfaz
eu já não sei como te chamar
eu não acredito mais, mas me ajuda em tudo que não deveria ser mais penso nas luzes para poder voltar
Me ajuda a calar o que não sei mais dizer o que descontinua o olhar pra essa data em que te risca fora  essa música indiferente aos teus ouvidos surdos o som que não ouço mais por essa casa todos os espaços todos os vazios da falta das suas coisas desfeitas o braço que não encontra mais o ombro os dentes secos por debaixo da boca concreta e rígida e esperam os ossos tomarem os seus cabelos que caíam pela testa trincada do que pensava incansavelmente já desenganada de alguma conclusão os pés no salto e me ajuda a aceitar o espaço onde o movimento cessou
Me ajuda a mais esse dia das revoluções que pararam de fazer sentido acendo o cigarro e as pessoas aprendem novos idiomas para não dizerem o que vai acontecer
Deus, me ajuda a essa falta de nome a que devo chamar nesse calor aleatório
essa data póstuma que não passa limpa. Me ajuda.

11 de fev. de 2014

dentro dali

À Thaynara Faleiro Malta

a poeira acha o seu canto na secura do quarto que encerra trezentas possibilidades pra fora das portas que não revela absolutamente nenhum argumento de um mundo que se faz em setenta discussões paralelas de bilhões de dois olhos e uma boca e duas orelhas e escuta o telefone tocar sem chamar para efusão de hormônios na vibração divina das supercordas up down no estático seguimento do reflexo dos vidros dos carros batendo nas paredes brancas e aqui a suspensão de um mundo em vinte minutos antes do trabalho e todo seu expediente que quisera rastejar sem ser notado um dia de verão e um jeito meio lento de responder às nuances das classes e das coisas que elas se entopem pedindo cem toneladas de eletrônicos e lítios para durar o conforto de garantir que não deixou de ser chamado  pelo nome e lembrado de dentro da rua que não sabe para onde vira e como se entra na atenção do outro não sendo possível cingir esse corpo com um amor curto e dois cigarros e o descontrole de encerrá-lo ao meio pois um dia há de acabar esse toque a boca que impede a secura do ar da palavra que dali falta a poeira é pele a falta pelo o quarto em alguns elementos fartos da única e enorme presença própria.

9 de fev. de 2014

Ad ventos

sei dessa falta de som
o teclado
da tua porta
que não abre
sei do jeito como deve
segurar o ar nessa chuva
sei de tudo que eu calo
na hora de reter
esse agora que eu gosto
tanto
da palavra que seria
do jeito
do meu nome
no último trago
da ponta desse seu
cigarro

2 de fev. de 2014

postal para o porto

tenho sorte em tudo que não me prometeu
tenho conseguido com um êxito enorme
desempenhar tudo que não é meu
tudo que não me chama
tudo que não dobrou uma vírgula
do que deixou de dizer 

tenho andado por aí e entrado em estabelecimentos
para conseguir coisas que não preciso
tenho desfrutado horas com o meu 
chamado mudo 
e isso é aquilo inteiro
que não me prometeu

ouço blues quando estou de sorrisos
pra lá de nada
e prefiro ler que o tal do marcelo rodrigo tadeu
protesta contra a copa
e eu que nem ligo
e é essa a forma
que não prometo
uma menção nos nomes 
desses dias

hoje faço assim
olho pra um vinho
e por mim não faço nada
além de virar o disco
e decodificar as outras
faixas que nao leio e 
me deleito
do que nao disse que seria
e é quase como se tivesse
sido.

30 de jan. de 2014

para alguém partindo para o porto

meu bem se alguma hora desse dia que partilhamos
por ventura
me ver chorando
finja que não viu absolutamente nada
saia catando suas coisas pelos cantos
e debaixo desses olhos
saiba que não há nada nesse espaço
que já não foi cantado ao décimo tanto
que eu não vou me dar ao trabalho
e parar para dizer que 
não é nada esse absoluto tudo que 
você pode ter me dado
por esse intervalo
em que as canções retardam
o carinho que quis reter
e essa mania de guardar
o que se leva
nessa água
nessa porta
que espalho agora pelo meu rosto

Apenas finja que não viu o que foi
do que se vê e siga
o teu rumo e não dói
isso que se deixa 
levar de desconhecer
o que te meço
em palmas e polegadas
desse mar que engoli
para evitar o desconforto
de esclarecer
que hoje choro
pelos motivos mais óbvios
desse idioma
que só te chama nas cadências
do mais bonita
de nós duas

eu sigo e espero
o sal
o gosto
o nome


29 de jan. de 2014

to the valley below

sempre estou mais para um café antes de me levantar e atender o pedido e ceder esse assento para a outra parte que impaciente me olha batendo os pés no assoalho oco desse chão que aquela moça andava de salto agulha. Mais um café e já disse que saio e te deixo discos, retratos e um pouco do que havia debaixo da minha pele:

retomo tudo quando mudarmos de forma
e essa senhora nada discreta
tomou o lugar que sempre teve

Quanto mais forte o café, mais forte o fumo
que servia para sentir suas unhas
no meu pulso

Foi com a voz trêmula que vi seu refrão que no estribilho
ainda escondia
a sua garganta cheia de ar

pouca diferença faz
pra quem só escuta o próprio nome

Mais um café pra quem não sabe mais o que responder
quando estamos assim tão calados
acertando despertadores
errando partidas


25 de jan. de 2014

pela metade

tentava assistir um filme argentino
acho que vi algo parecido em ingles um dia
um taxi driver portenho

nao li o livro inteiro que ela me emprestou
acho que nao pretendo devolver
o que ela acreditou 
que eu podia
concluir

amanha talvez eu nao faça nenhum mantra
nao defenda a classe oprimida
ja resolveram a falta linha
da riqueza paulistana
em algumas
gotas sublínguais

Já tentei remover todos os anúncios
maliciosos da minha janela
e só tenho paciencia para um beijo
e algum silencio

e eu querendo devolver com uma citaçao
em portugues
do filósofo
que nao me dei ao trabalho de ler
eu disse

eu nao leio
mas seguro bem as cigarrilhas
e sinto o gosto no fundo da colher
e faço preguiçosas massagens
cardíacas
dessa pessoa tao normal

nunca tratei de fotografar esta cidade
acredito que nao vivo num filme
acredito que nao há prostitutas nessa rua

vizinhos discretos e a cada ano
mudam de carro
(tres anos é o tempo máximo)
o seguro da tua conversa insólita
ninguém me garante

ainda vejo as árvores
nao reviso rimas
nao reconecto tuas linhas
que vieram dos teus dedos comidos

a divina secura na boca
vai chamar a última ligaçao
gravada insistentemente

sei das coisas do seu quarto
e tudo faz mais sentido
quando limpa os cinzeiros
e joga no fundo
essas olheiras de me ver

as pessoas morrem ou vao pra europa
as teias devem ser retiradas com uma vassoura
limpa
porque as paredes precisam
nao oferecerem nenhum ponto de fuga
que é pra eu olhar
e nao ver nada

te ligo mais uma vez
pego dois onibus
e volto

sem nunca devolver o livro
longe de fazer sentido

removo a conclusao
te ligo
no quarto toque
desisto 


17 de jan. de 2014

tabacaria química

penso escrever um e-mail ou coisa do tipo/ mas me canso ao pensar nas consequencias que isso pode ter/ sim/ pois um dia me falaram que cansamos os outros/ eu nao quero cansar ninguém quando me canso das coisas quietas | poderia inventar fórmulas mágicas e exercícios de repetiçao do silencio/ mas é exatamente isso que estou fazendo agora/ conduzo esse silencio do meu futuro interlocutor e imagino suas caras/ espero a boca se abrir/ espero o corte desse incomodo usual/ espero demais e nao vou provar que sou sublime por agora/ escrita seca nos olhos enuviados da fumaça densa desse tabaco adocicado/ doce/ no fundo da língua o que pedi com os olhos de mais de trinta kilos/ recolho meu peso nao como questao de bom senso/ mas por saber daquele outro cansaço/ agora o de pedir mais uma fórmula descafeinada de permanencia/ paro para pensar/ o copo no canto da mesa e nem sei quem era aquela que se sentou sozinha/ pensava esta em estruturas carbonicas e disseram que essa indisposta metafísica está na ausencia de uma fantástica ligaçao iônica que esqueceu o nome| o e-mail faria pouco sentido já que nao trago nunca urgencias urgentes/ trago o que se resolve nesse aroma que agora já volta para a garganta sem absolutamente nada além do que já passou/ sem prazer estético algum/ sem nenhuma forma que se preze/ só o reconhecimento de que te gastei da melhor forma possível/ a do teu cansaço para o meu alívio o meu beijo  um até logo ou algo do tipo

10 de jan. de 2014

à tua porta

é aquele jeitinho especial de me destruir pelo bom senso quando julgava à luz de uma conclusao qualquer que hoje, talvez hoje o melhor que se pode fazer é o nada daqui pra frente. Me despeço com cuidado e cerimonias sabendo que amanha vou dizer alguma coisa entre os intervalos das notas e diria ao som delas que eu desejaria que nao fosse tao importante assim a ponto de me oferecer a mais profunda metafísica por uma mera crítica e que eu gostaria que nao arrancasse da minha boca finalmente quieta os tantos anos que tenho de vida e aqueles que espero sem voce antes de te ligar te pedindo o que esqueci de mim.
voce devolve, voce sempre devolve e eu caminho por aí com sacolas furadas.

8 de jan. de 2014

caixinha de tempo

isso era pra ela 
pra dizer que ela está aqui
 isso era para aquela que está com dois pés e meio atrás de uma valsa de improviso e que nao aceita a conduçao líquida da acidez de um tango com estruturas exatas ela já está enquadrada nas raízes de moore que fez seu vestido mais apertado na regiao frontal dois sempre dois quando o café decanta mas ela nao vai esperar essa história inteira pois sabe que também andei socando essas palavras e quando eu tremer ela vai dormir porque se cansou desses nirvanas diários em que nao conseguiu se safar da claridade que desvia sua janela e ela vai andar por todos os cantos do quarto por onde ela entrou e os macacos pulam amanha e ela me manda uma fotografia sem a transfiguraçao de um sorriso encomendado ela fica melhor com a boca reta numa línha contínua de uma orelha que diz nao e a outra que diz talvez e ouve quieta

_ eu gosto de voce

           ela vai rir ela vai rir muito ela vai mexer no porta-retratos e virar para si a imagem que diz

                 _ eu também


ela ouve e dorme tranquila - ela vai acordar e virar o ventilador porque de fato está muito quente