12 de jan. de 2017

Monolito

Chegou-se um tempo que todas as gamas de sentimentos possíveis foram quebradas nos életrons, nas voltas do núcleo, num buraco de minhocas, no sustentável giro de um átomo.
Chegou-se um tempo que som de uma voz foi reduzido à vibrações que saem da garganta, sempre, cansada e retorna no martelo surdo, no clique que ignora o chamado.
Chegou-se um tempo que o olhar virou um susto, o olhar virou o desvio, o pedido virou incômodo.
Chegou-se um tempo que o tempo virou a dobra de um relógio comprado por uma variante do bolsa de valores em Nova York, quando o bolsista, angustiado, precisou sair pra comer na Times Square.
Chegou-se um tempo que a música virou a sacudidela da cobradora que, cansada, sentiu-se nada quando, e, num século seguinte, o cientista não soube desviar o cálculo que colidira no núcleo do Planeta do vendedor de hot dogs que perguntou as horas, meio entediado, para o bolsista da Times Square que casou com a cobradora do coletivo Santana cuja o jornal estampa o desastre na Marginal Tietê, notícia essa que comoveu o boy ao lado do vendedor de cachorro quente da Times Square.




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