8 de nov. de 2008

subterranean homesick blues.

às vezes a gente perde a vontade de falar, sair, rir, etc. E todas as coisas. às vezes a gente fica rodando em círculos . às vezes a gente diz qualquer coisa. às vezes a gente fica pensando em algo que poderia ser significativo. às vezes a gente não pensa em nada e fica na janela fumando. às vezes a gente pensa que dormir é uma completa perda de tempo. às vezes a gente marca a data para que tudo comece a dar certo. às vezes a gente adia os planos. às vezes a gente bebe até cair e acorda com ressaca. às vezes a gente come um lanche na padaria. às vezes a gente fica querendo que o tempo passe logo. às vezes a gente ouve bob dylan. às vezes a gente lê caio fernando abreu. às vezes a gente pega um ônibus errado. às vezes queremos coca-cola. às vezes reclamamos do tempo. às veze lemos as notícias no elevador. às vezes atravessamos o sinal vermelho. às vezes não temos nenhuma conclusão brilhante. às vezes a gente morre. às vezes a gente gosta. às vezes a gente se prepara. às vezes a gente joga paciência. às vezes a gente checa e-mails. às vezes falamos de permanência. às vezes a gente olha a paisagem decorada pela janela do trem. às vezes a gente escreve. às vezes a gente faz cadastros. às vezes é assim.
nesses dias.

20 de out. de 2008

Previsão Sem Tempo

Estou me secando dos mares do ártico
então vim até aqui oferecer a toalha que restou enxarcada com aquele
bordado de coração,
se puder, por favor, ateie fogo para evitar o mofo de umidades

imponderáveis

- that's my turn to throw these blank dice -

e antes que eu tente abafar os trovões com fogos de artifício:
histeria paupérrima de uma idéia,
ofereço proteção das águas com esta folha do morango da próxima
estação?
semente carregada de urgências,
mas nesses exatos
trezentos e sessenta e seis domingos tentando entrar pelo rombo de cigarro no sofá,
acabei me enrolando e enterrei foi a semântica elegante

- hoje era dia de colheita.

25 de set. de 2008

Desconstrução

Acordou. Embora tivesse as retinas viciadas da sombra corrompida pela fresta da janela, sabia que os objetos estavam exatamente onde esperava: relógio no criado-mudo, cinzeiro no chão ao lado da cama, o casaco pendurado na cadeira. Primeiro impulso: 15:34, coçou a cabeça para tirar resquícios de sonhos esquecidos e sabia que tudo estava acabando. Pegou o casaco e tentou desprender algumas sentenças de seus botões, olhou para algumas anotações no caderno: em branco. Foi ao banheiro e já não sabia se era homem ou mulher. Foi até o espelho para esfregar alguma imagem na cara, com força. Espelho cinza, fosco. Correu até o telefone. Tentou se lembrar de alguém, alguma conversa amiga, alguma piada interna, mas não se lembrou de absolutamente ninguém. Arriscou qualquer número: chamou, chamou, chamou. Por fim, atenderam:

_ Em que posso ajudar?
_ Por favor, estou com frio hoje.
_ Aconselho que vista um casaco _ Já estava com o seu casaco.
_ Não, não é isso. É que sabe, estou com sono.
_ Neste caso, sugiro que descanse um pouco.
_ Não, acabei de acordar. Na verdade é o meu emprego, sabe, está acabando comigo.
_ Então a melhor opção é arrumar outro.
_ Não é isso, é que... Acho que sinto fome.
_ Bem, deveria se alimentar.
_ ... mas meu estômago, desconfio que não tenho um propriamente.
_ Procure um médico!
_ Sim, um médico! Por favor, me transfira para um médico.
_ Bem, lamento, mas agora não existe nenhum médico.
_ Então me transfira para alguma farmácia.
_ Não há farmácias.
_ Me transfira para qualquer pessoa.
_ Perdoe-me, mas neste instante não existe ninguém.
_ Mas e eu e você?
_ Se me permite dizer, sou apenas uma suposta voz.

Ainda tentou responder, mas em lugar de algum argumento, veio o silêncio. Entendeu. Finalmente entendeu que não passaria de um incômodo. Que tudo se encerrava nisso, entre o acordar e esta última ação de pensar sobre o acordar. Um lampêjo abortado. Alguma idéia que não foi levada a sério e nem mesmo sequer tiveram o trabalho de lhe criar alguma trama, algum enredo, algum conflito. Atribuíram-lhe o inacabado, nem mesmo serviu de verso ruim, um mísero haicai que fosse... Não, era a pura falta de disposição alheia! Era alguns suspiros, era palavra empedrada, era o que se olhava despreocupadamente pela fresta da janela e, por falta de paciência, não seria nem o fim, seria o nada depois da próxima vírgula,










21 de set. de 2008

A day in a life.

Ando treinando discursos nietzscheanos debaixo das cobertas enquanto os cães ladram o dia em que não existo. Desta maneira evito o sol, fuligens de automóveis e certos aborrecimentos.
Ainda não descobri nenhuma palavra que se possa entender, mas te perguntaria sobre seus afazeres se soubesse onde me enfiei: naquela calçada pela manhã, quando o orvalho cobria seus medos e escrevia no vidro do teu carro o quanto sinto a sua falta. Mas agora já me recolhi e certamente os discursos pelos bares da augusta me fariam pouco sentido nesta altura. O telefone, antes do corte mensal, só encontraria a casa quieta e a porta fechada. Na pia, filtros de café revalariam alguma tentativa de esperar mais dez minutos antes das cortinas se fecharem. E eu não reconheço uma vida que ninguém mais fala a respeito. E o que resta, por hora, é essa estrutura parada na frente dos cães bravos. E continuo andando pra dentro do meu quarto.

15 de set. de 2008

Fora do ar,

Voltarei assim que algum acontecimento me tirar do torpor.

22 de ago. de 2008

como sentar num ônibus.

prólogo.

Mas por quê estou sentado nesse lado do trem se bate tanto sol? Estou com sono. Esperava chegar na hora marcada, mas já vi o relógio passando na última estação: são 15:12. A hora marcada deve ter passado há três estações. Eu esperaria. Posso pensar numa desculpa, isso não falta numa cidade deste tamanho, mas se bem que isso não quer dizer muita coisa. Reclamam de tédio o tempo todo e li em qualquer lugar que "aventura" só acontece quando é narrada, acho que foi num livro de Sartre, não sei, esqueço as páginas onde encontro coisas que fazem sentido pra mim. Acontece que o que faz sentido pra mim muda tão rápido e no momento seguinte já é algo corriqueiro, mas deve haver coisas que fazem sentido o tempo todo. Essa, por exemplo, da "aventura" é uma delas. Quem poderia imaginar que estou numa grande aventura agora? O pessoal que senta ali na sombra deste vagão?! Pode ser, mas logo o trem faz alguma curva e o sol volta a bater nas costas deles, aí terão algo para se preocuparem mesmo, nada de "será que aquele rapaz está vivendo uma aventura agora?", nada disso. Vivo um fato que nem sei justificar. A verdade é que nem devia estar me locomovendo dentro deste trem, sabe. De duas uma: estar num café ou estar em casa. Não estou em nenhuma dessas alternativas, estou entre uma e outra: vou para um café querendo tanto estar em casa. Mas saí de casa hoje e estou indo encontrar aquela moça que gosta de Cortazar. Espero que o assunto não se detenha demais nele, li apenas o livro dos cronópios e famas. Não tem problema, acho que consigo dialogar por um tempo sobre isso. Faço conexões com outras coisas, saio do café como um cara bacana, companhia agradável e tudo mais. Bem, mas a coisa é que isso não é tão importante pra mim, essa de me sair como um cara bacana pra uma pessoa que vou encontrar tão pouco, de repente, só hoje. Acordei bem disposto esta manhã, foi isso. Logo volto pra casa. Se chegar no café às 15:40 fico até umas 17:00, pior que depois disso os trens estão lotados, mas ficar até às 20:00 é demais! Vou começar a ficar monótono, esquisito, completamente enfadonho. O mesmo pode acontecer com ela. Pior é que uma hora teremos de anunciar a partida: que não seja eu! Provavelmente será, fico meio assim de parecer grosso. Não sei, acho que não devia ter vindo. Ficava em casa seguro, longe de sorrisos sustentados, opiniões combinadas e polêmicas a la carte. Já está tarde. Já saí de casa e isso foi feito para ser nada. Não é o que vou contar quando quiser contar alguma coisa. Isso não sai deste evento, é natimorto. Alguma coisa deveria acontecer agora, mas ela já me viu:

_ Oi, está esperando muito tempo?




20 de ago. de 2008

soneca.

Já passei a detestar o som do teu alarme, já decorei todas as nuanças monofônicas do fim do teu sossego e a luz que escapa da sua persiana revela o que já tateio sem hesitações. E finjo a respiração pesada para o sobressalto matinal: já aguardava esse alívio três minutos antes da primeira chamada. Já pressenti as formas das primeiras obrigações antes mesmo de interromper sonhos presos às têmporas frias e nelas que aguardo a continuidade do sossego insuflado. Aperte, então, o atraso consentido para recomeçarmos sempre com um bom dia.

28 de jul. de 2008

farinha do mesmo saco para exportação.

Hoje saquei os últimos R$ 10,00 da minha conta. Dessa vez não senti raiva, apenas olhei praquela nota e guardei na carteira, quieta, sem pensar em absolutamente nada. Aliás, pensava sim no fato de ter sacado os últimos R$ 10,00 e pela primeira vez não sentir vontade de sair gritando pelo shopping onde o caixa eletrônico incumbido de raspar as paredes já tão gastas da meu cheque especial estava alocado. Não me senti nem um pouco ofendida que pais de família com seus sapatos mocassim de uso exclusivo para finais de semana, representassem a fortaleza ao ofertarem para os filhos quantas casquinhas do Mc Donald's pudessem se inchar. Costumava pensar no ciclo vicioso disso: sorvete aos finais de semana, escola na semana, cursinho depois do expediente de ajudante administrativo, cerveja no barzinho da faculdade, gel sapa-tênis camisas salmão i-pod i-tune i-phone, help desk de sistemas de informação da renomada companhia francesa, promoções para gerente de gestão de sistemas, piadas com o peixe que perdeu na vila, churrascos corporativos, jantares pagos para a mocinha do rh, apartamentos na vila mariana com o financiamento do itaú, troca de carro a cada três anos antes que se desvalorizem no mercado, chá de bebê, pré-escola e, fechando, casquinhas do Mc Donald's aos finais de semana. Sorvete é bom, com esses R$ 10,00 poderia tomar umas 6 ou 7 casquinhas do Mc Donald's, mas tenho outros planos por hora pra esse montante. Ao subir a rua do shopping pensei que ainda precisava de mais R$ 2,30 pra pegar um ônibus amanhã. Lembrei do mendigo que me veio com uma história de latinha filhos deus. Por sorte eu tinha umas moedas que entreguei sem pensar, apenas respondendo, quando entendi naquela voz tão passiva "deus te abençoe", um "amém", que um dia aprendi nas aulas nunca concluídas de catequese significar "a todos nós". Mas não acredito que naquele pequeno montante fosse somar R$ 2,30, no máximo R$ 1,45 - moeda de fundo de carteira tem mania de nunca completar um valor aceitável para a maioria dos preços estipulados das coisas que precisamos. Gostam de quantias facilmente divisíveis ou então laçam a piadinha do 99 centavos pra dezena não se completar, nos dando assim a ilusão que pagamos, por exemplo, R$ 200 por um microondas que custa R$ 300, quer dizer, R$ 299,99 - Nos apegamos ao começo das cifras, ou melhor, ao seu formato. O mendigo conseguiu beber umas 2 pingas, com sorte, arrumou algum dono de bar que arredondou para 3, ou talvez ele tenha juntado os prováveis R$ 1,45 com outras esmolas e levou leite para seus filhos, pra mim, honestamente, tanto faz. Dificilmente voltarei a ver aquele homem que se arruma em qualquer canto que evito (sempre o medo de perder os últimos R$ 10,00). No mais, provavelmente usaria os tais R$ 1,45 pra comprar um halls ou qualquer coisa não mais valiosa do que cachaça pro bêbado ou leite pros famintos: é tudo questão do mínimo do bem-estar, insustentável, claro, para aquele com R$ 1,45 ou aquela com os últimos R$ 10,00. Idiotice pensar que aqueles R$ 1,45 me pertenciam de alguma forma, devo ter trabalhado alguns minutos para obtê-lo, sorte minha que consegui ir para Londres aos 18 anos por conta de uma tia generosa e um pai dedicado: aprendi a falar um pouco de inglês e com ele ganho talvez mais talvez menos que R$ 1,45 por um punhado de tempo pra vender passagem aérea pra gringo que não quer ver um mendigo com discursos automáticos de latinha filhos deus. Gringo vem fazer negócio em empresas francesas, alemãs, americanas, brasileiras. Gringo vem fazer turismo exótico, já que não tem um país mais rico que o seu (e se tem ele já foi) pra tirar fotografia e colocar no porta-retrato: Na casa da minha mãe, tem uma fotografia minha sorrindo, gorda por me alimentar somente de Mc Donald's (onde trabalhei por 10 meses no centro financeiro londrino) e frangos islâmicos, radiante, com o imponente big beng (quase escrevo big bang!) atrás de mim o amarelo parlamento inglês. Talvez o mendigo nunca ande de avião, talvez já tenha andado e perdido tudo na cachaça. O mundo anda doente, sabe, e eu um pouco cansada. Se bem que estou no vigor dos meus 25 anos, com várias idéias pipocando na minha cabeça e os últimos R$ 10,00. O que faço?! Oras, deixe-me tratar de relatar tudo isso pra que alguém entre tantos muitos na mesma situação que a minha me leia e tenha generosidade de me ofertar um comentário: "Puxa, eu te entendo!" ou "Você escreve bem" ou "Como você traduziu perfeitamente o que vivo" ou afins. Aí eu fico toda vaidosa e penso que um dia essas palavras poderiam me render algo além de R$ 1,45. De repente isso aqui se trata de alguma forma de um discurso latinhas filhos deus, só que um pouco mais prolixo, um pouco mais retórico que é pra não ir a lugar nenhum, fazer meus malabarismos desajeitados no farol vermelho de vossas pressas e vossos orkuts e vossos i-tunes e vossos downloads e vossa busca voraz por alcançar algo como companhia e repertório para mantê-las por perto e interessadas pelos seus gostos, cultura, opiniões e palavras: essas palavras com que falo agora "gostem de mim" ou "me dêem um pouco de atenção". Isso não me dói admitir, acho mesmo que até me rende um ar cool toda essa lucidez. Aliás, até certa idade nunca entendi o que os intelectuais diziam sobre: "a consciência dói". Há aqueles que repetem essa máxima sem nunca entender, como fiz durante boa parte da minha vida, aqueles que entendem o que é tal de dor-do-saber e a cultivam para que a auto-flagelação-intelectual lhes rendam alguma sensação de vida e, por fim, aqueles que entendem o que seria essa dor da consciência mas a renegam como podem. Penso que talvez toda essa dor implique simplesmente em saber que somos constituídos de inúmeros defeitos, que não há uma verdade absoluta que nos conforte ao agirmos segundo os preceitos de uma consciência única refletindo atos decorados e fáceis de sermos bons e fazermos o bem, e que, muitos daqueles que admiramos e que nos apoiamos durante um bom tempo estão tão perdidos como a gente. Ah, e de repente a sua mãe se torna uma fofoqueira intriguenta, Ah e de repente o seu pai se torna um ser patético ao espichar os dedinhos do pé dentro de sapatos mocassim, Ah e de repente o teu irmão se torna o queridinho da família ao ser mais um desses idiotas com os seus mocassins esperando pacientes na prateleira de uma loja enquanto ainda não enjoa do nike sox 30 molas. Mas a questão em renegar essa dor, que para mim seria mais um incômodo eventual, é simplesmente entender que talvez 99% das intrigas da sua mãe é unicamente para proteger seus filhos ofertando-lhes aquela verdade única que irá amortecer o peso do mundo em sua prole, envolvendo-os numa redoma cuidadosa e ensinando-lhes a construir esse modelo único de vida que, segundo ela, deu a possibilidade de uma outra, que seu pai calça horrendos, porém confortáveis, sapatos mocassim por estar cansado de tanto lutar por você e suas aparentes necessidades de forma a merecer algum conforto na sola dos seus pés que incansavelmente correram pra que tudo estivesse disponível pra você, e que seu irmão simplesmente aceitou toda essa proteção. Me chamem de moralista, mas tenho horror a ingratidão e mais ainda a gratidões impostas! Não cobrei a benção do mendigo e mesmo se ele tivesse me poupado do reconhecimento por caridades duvidosas, inevitavelmente me agradeceria ao utilizar os R$ 1,45 da melhor maneira que encontrasse na ocasião. Certamente gozarei dos últimos R$ 10,00 do cheque especial da melhor maneira que tenho e, podem estar certos disso, não proferirei nenhum agradecimento, além da cordialidade obrigatória que preciso reproduzir para manter o meu emprego, àquele gringo x que comprou uma passagem se deleitando ao ouvir minhas curvas fonéticas no meu "sorriso na voz" mas que não quer ver a mim nem ao mendigo. E por fim, o que irei fazer com esses R$ 10,00?! Resposta: turismo.

9 de jul. de 2008

Sobre o prefeito que ajudou enfrentou os poderosos.

Opa, procurando uma foto do excelentíssimo ex-prefeito Celso Pitta com cara de sono ao ser preso, a fim de compartilhar com os senhores o raro deleite de comemorar alguma justiça, eis que descubro que Pitta escreveu um livro! Resolvi então mudar o rumo da prosa.
O livro está sendo vendido pela Submarino que, na descrição do produto, anuncia:

"O ex-prefeito Celso Pitta passa a limpo a sua atuação frente à prefeitura de São Paulo entre 1997 e 2000 e mostra os bastidores do poder. Rebate as críticas sobre irregularidades em sua administração e se defende dos dois pedidos de impeachment durante sua administração."


Tá, e daí?! Ok, se o cinismo pretensioso de seu livro, publicado em 2002, não rendeu sonoras gargalhadas vamos aos dados técnicos da publicação:


Editora:
Martin Claret

ISBN: 8572325433
Ano: 2002
Edição:
1

Número de páginas:
160

Acabamento: Brochura
Formato:
Médio


Ahá! Talvez Pitta tenha escolhido a editora a dedo, ou seria a única em arriscar sua imagem ao publicar um livro de um autor tão duvidoso?! Ah! Que nada! Pitta e Martin Claret se merecem! Deixe-me esclarecer: Martin Claret é aquela editora chifrim dos livros, em sua grande maioria de domínio público, com capa de romance semi-pronográfico de banca, baratinho para que os estudantes possam ter pouca despesa com o material escolar e poder gastar o resto cerveja (falo isso com toda propriedade do mundo), disponíveis em bancas e displays giratórios de livrarias. Lembrou? Então, é que coincidentemente a editora teve de prestar contas sobre a séria acusação de plágio em suas traduções. O lance é que um tal de Pietro Nassetti simplesmente traduziu obras de Marx, Nietzsche, Kafka, Platão, Shakespeare, Dostoiéviski, Sun-Tsu etc. Num tempo realmente impressionante! Notem que além do cara ser um absoluto poliglota, ele praticamente psicografou a tradução num surto desfreado pra deixar qualquer Chico Xavier comendo terra. Ah! E ainda conseguiu realizar a proeza de traduzir escritores como, por exemplo, Machado de Assis para a língua pela qual lhes dirijo esse post: Sim! O poliglota ninja traduziu Machado de Assis para o português numa edição integral! Vamos, uma salva de palmas para Pitro Nassetti, Martin Claret, Celso Pitta, Naji Nahas, Daniel Dantas e pra Biblioteca Nacional que entrega numa boa um número de ISBN (International Standard Book Number) para traduções de um idioma para o mesmo:

[clap, clap, clap, clap]

Ah! Já ia me esquecendo, o preço do livro pela Submarino é R$ 17,90, mas pelo sebo do Messias dá pra descolar por R$ 8,00 pelo worst seller do ex-secretário de finanças do (ó abram alas que ele vem aí) Paulo Maluf. E só pra não terminar sem aproveitar a foto da eterna cara de sono ao ser preso:

Desculpem a qualidade da imagem, mas depois de Martin Claret e Celso Pitta, até que dá pra dar um desconto. E me respondam, será que a "Política E Preconceito" já foi traduzido por Pietro Nassetti?

30 de jun. de 2008

Como é que faz pra lavar a roupa?

ou: um post nada mínimo.




Eis o mais novo cartão postal da grande capital do terceiro mundo: A ponte Octavio Frias de Oliveira.
[clap, clap, clap]
Assim se configura o grande X do governo Kassab / Serra (PSDB/DEM).
Vejam que além de ostentação, a ponte oferece uma série de vantagens: Ligar o engarrafamento da Água Espraiada com o da Marginal Pinheiros, concretizar literalmente a política do que pode ser tocado mas pouco usufruído (política paulistana essa tendo como principal pioneiro o glorioso ex-prefeito Paulo Maluf), e, claro, servir de um grande adorno para os Estúdios Globo de jornalismo, coincidentemente situado a frente do novíssimo sightseeing paulistano, e que agora abre as janelas celebrando com o slogan: "SPTV, jornalismo transparente até no estúdio". Mas como nem tudo que reluz é ouro, os pupilos de Roberto Marinho tiveram de adiar a estréia do novo cenário - era luz demais nas notícias, sabe. Para ajustar a iluminação, tiveram de abrir mão das câmeras de alta definição que, em conjunto com o sol, interferiam na feição dos jornalistas, deixando-as deveras expostas: Sol do meio-dia não é fácil! Ainda bem que notícia ainda não cheira, não é mesmo? Pois o Pinheiros, rio onde a ponte atravessa, ainda fede, e muito! Mas concordemos que aplicar o mesmo montante final da ponte (R$ 260,000,000,00 até onde temos notícias) para despoluir as águas putrefatas do Tietê paulistano e seus afluentes seria por demais demodê, né?!



"Como é que faz pra lavar a roupa?
Vai na fonte, vai na fonte
Como é que faz pra raiar o dia?
No horizonte, no horizonte

Este lugar é uma maravilha

Mas como é que faz pra sair da ilha?

Pela ponte, pela ponte"


Bem que os moradores das casas de papelão da favela Jardim Edite, localizada próxima a Berrini (m² mais caro da cidade), poderiam ter cantado a música de Lenine quando finalmente o mais novo projeto megalomaníaco de São Paulo foi concluído, mas preferiram comemorar o resultado alcançado na Justiça que garantiu a área às famílias assentadas próxima à ponte. É que a prefeitura de Kassab pretendia dar mais uma clariada na área desocupando e demolindo os barracos na rota do moderno projeto urbanístico que a ponte empreende. O porém foi que o dinheiro arrecadado para acomodar os moradores com supostos "cheques-despejos" entre R$5 mil e R$ 8 mil e vaguinhas no CDHU, vulgo "cingapura" - prédio fachada para esconder favela criado pelo saudoso (olha ele aí de novo, gente!) ex-prefeito Paulo Maluf, no bairro de Campo Limpo, a 18Km da Glob... ops... da ponte, foi usado também para dar um help na construção do grande X empresarial.
Mas o problema de se lavar roupa em água podre é que a roupa nunca fica limpa, o branco nunca fica branco, o transparente mancha tanto quanto jornalismo tendencioso. Isso sem contar o futunzinho exalado nos tecidos tão mal lavados como, os expectadores atentos hão de superar a limitação olfativa tecnológica, aquele globinho fedido.

23 de jun. de 2008

sustento.


estou com o estômago nos poros. senti o café frio na ponta dos dedos e quis vomitar.
há tempos que fome se sacia entrando no banquete térmico.

o coração acorda nos choques e aquieta no morno.
e eu vivo só em repousar a mão no mormaço do teu ressono. e vivo.

20 de jun. de 2008

prolixidade.

É tanta coisa que se fala e tanto remendo entre tudo. Acho bom começar a pedir direitos autorais de meus conselhos. Onde foi que eu ouvi isso? Ah sim, eu mesma devo ter tentado doutrinar alguém hoje à tarde. É aquela desincronia entre a boca e o som - o retorno é que me confunde.

30 de abr. de 2008

Revolução das Formigas.

Nas rodelas displicentes do café trêmulo das manhãs ou naqueles tantos restos deixados no fundo do copo americano, com o açucar azedo a fazer mel pela impaciência de se mexer até o homogêneo, foi que provemos os tempos de glória da incansável sociedade que se formou entre os incontáveis azuleijos de um casa antiga com ares de manicômio quando esquizofrênicos eram simplesmente alienados. Havia aos olhos míopes rachaduras vetoriais que se enveredavam das fendas aos restos, do abandono ao abandono. Os farelos mofados na toalha da mesa que se moviam, sumiam e sempre estavam lá. Cada orifício improvável: tomadas, respiros e ventoinhas dos elétro-domésticos, fechaduras, etc. Foi tomado por meses em que a porta de entrada se fez saída apenas. Um dia notou-se verdadeiramente que a marcha ininterrupta não mais se desviava dos tamanhos colossais - diminuímos - e nos nivelamos às suas veredas despreocupadas. Mas há tempo ainda de regressar. Hoje ainda há aquelas que permanecem, mas por algum motivo perderam a fome, a fila, o rumo, a morte - .

27 de mar. de 2008

Semáforo


"Diálogo de surdos, não: amistoso no frio.
Atravanco na contramão. Suspiros no
contrafluxo. Te apresento a mulher mais discreta
do mundo: essa que não tem nenhum segredo."
AnaC

O semáforo demora a abrir. Ele me disse que seria mais fácil se a vida sempre tivesse esse tom onírico. Seria eu concordei sem responder. Mas sabe que a primeira luz do dia a bater no quarto enquanto ainda dorme já traz consigo o mormaço da lucidez e uma hora é preciso sair de casa se agarrando ao batente da porta. Foi na primeira página de um livro o qual abri aleatoriamente que dizia que a cidade canta. Canta mesmo. Num emaranhado de motores, concretos e suspiros. Já não isolo o que ouço ou o que vejo por aí. É tudo um bloco de ondas sensoriais que decorei do caminho de casa ao trabalho. Não penso no tempo além desses segundos em que aguardo. Conto planos frágeis sem entusiasmo ou pretensão de acontecer. Ele escuta. Mais cinco minutos entre as duas mãos. Atravessa. Corre. Chega logo a algum lugar. Que não encontra. Ele ficou do outro lado.

11 de mar. de 2008

Síntese.

Devemos ser feitos de coisa mole que seca. Ou daquilo gelatinoso que vai adquirindo uma casca. Se endurece por dentro e por fora e a certa altura algo começa a se tornar imoldável. É que passamos do ponto e as formas ainda não se definiram e talvez seja aí que nos damos conta de que será assim mesmo. Tenta-se por dentro expandir-se o que é por fora, mas o espaço é cada vez menos flexível e as superfícies se enrijecessem com a atmosfera do tempo. Aí que se diminui. Se condensa a ponto de pedras e o que não tinha toque agora tem. É que aquele vapor de tudo o que pensamos pela manhã, antes mesmo de se definir os movéis ou datas, se solidifica nos resquícios dos travesseiros e se mantém durante todo o dia de uma casa abandonada. Haverá pregos que não passarão pela sola do pé, eu sei, e a expressão não mudará a um possível reconhecimento nos transportes coletivos. O Outro não entra ou tampouco passa. Aceita-se as durezas e o encontro que não se encaixa. E no fim fecha-se. Encerra-se.

6 de mar. de 2008

10:20 am

Apertei o porteiro eletrônico; O portão se abriu:

_ Qual convênio?
_ Bradesco Saúde.
_ Qual idade?
_ 24 anos.
_ Qual médico?
_ Dr. Felipe.
_ Qual profissão?
_ ...
_ Qual profissão?
_ É complicado responder com esses empregos de hoje em dia.
_ ....
_ Coloca aí: Estudante.

Sabe os machados de Raskólnikov?! Então...

21 de fev. de 2008

but I've been so B.


se todos os dias pego o mesmo ônibus com o mesmo motorista e o mesmo cobrador os quais me dão os primeiros sinais dos meus vinte minutos de atraso no serviço e agora não adianta correr porque o trânsito de são paulo é sempre uma merda melhor encostar na poltrona e dormir inúteis minutos antes de chegar e ouvir pela milésima vez o white album do beatles e sentir o som diminuindo enquanto a guitarra do george harrison gentle wheeps e acordar com good night com o sol ardendo na minha testa close your eyes and I'll close mine e manter os olhos abertos com toda força do universo e não dar bom dia quando entro no meu departamento mas não sou antipática e no fim acabo conversando com a pessoa ao lado sobre leis trabalhistas e sair correndo pra casa pra não perder o dia mas logo vejo que já passa das dez horas da noite e tenho poucas horas de sono mas amanhã eu consigo chegar no horário até eu me deparar com o mesmo motorista e o mesmo cobrador e aqueles vinte minutos descontados do meu salário se eu não tivesse inventado de tomar aquele toddy que começa a azedar no meu estômago e dear prudence apenas começou a tocar, se sou assaltada enquanto estou na cadeira do dentista eu sei que não poderia ser mais bizarro mas é uma coisa que qualquer um está sujeito a ter uma arma apontada na cabeça enquanto faz um tratamento de canal, se vou para uma sala de cirurgia anestesiada olhando as luzes dos corredores enquanto cantorolo hallelujah na voz do jeff buckley no fundo da minha cabeça, se saio semi-bêbada da casa de alguém e caminho pela paulista numa manhã nublada e deserta pensando num jeito rápido de voltar pra casa para que tudo seja a mesma coisa e me desculpe por quebrar a rotina morna mas é que não sei o que me deu ontem à noite mas precisava andar por ruas desconhecidas e freqüentar apartamentos de desconhecidos, se ligo para um velho amigo num acesso fugaz de me sentir bem comigo e as coisas e as pessoas e os acontecimentos e de repente me arrepender amargamente quando a voz esquecida do outro lado me pergunta no que estou trabalhando e como anda a faculdade e quais são os meus planos pra quando eu me formar não eu não sei porque na área de letras não há muito campo pra quem não pretende dar aula como eu e no mais ando sem dinheiro pra pagar o último ano desse curso que venho arrastando nas coxas meu deus! preciso desligar esse telefone, mas apareça em casa qualquer dia desses você ainda não conhece a minha casa desde que saí da minha mãe e nunca mais vamos nos falar porque você não é meu amigo e não sei porque tive essa idéia estúpida de te ligar e não esqueça de mandar um abraço na sua mãe sim eu apareço agora você tem o meu número e meus contatos você não tem desculpa pra sumir e sinceramente espero que você nunca me procure porque sabemos que isso não irá nos levar a lugar algum foi bom ter falado com você e não esqueça daquela cerveja que nunca vamos tomar um beijo, se naquele dia frio e chuvoso estou em casa e resolvo fazer um café e ler um bom livro talvez o estrangeiro de albert camus mas é que os filtros de papéis acabaram e ando com preguiça de ler e acabo fazendo por milhares de vezes o peregrinação de duas mãos computador-tv-computador ad infinitum, se repito que seja doce como sempre lembro dos dragões do caio e isso soa forçado então prefiro não falar e só penso mas mesmo pensando pareço estar além da margem do livro e nada soa como literatura nem a marginal que se propõe a estar exatamente onde eu disse estar além do corte porque não estou no rio dos anos oitenta nem cheiro cocaína ou tampouco cresci no mandato de qualquer ditador como o figueiredo por exemplo quando eu nasci o tancredo já estava quase subindo no poder e nem mesmo me lembro da recessão no governo sarney e sou fruto mesmo do tédio dos anos noventa e nem adianta tentar dar uma de hermética e tentar escrever um poema à la AnaC porque não escrevo poemas e não escrevo prosa e não reproduzo na prática exatamente as coisas que parecem ser um pouco mais profundas quando são contadas, é porque é raso e passa sem que eu perceba e quando percebo não reconheço o momento pois quando me toco não parece ser as coisas que estão acontecendo numa seqüência de cenas mal ensaiadas de um filme b qualquer durante a madrugada em que já deveria estar dormindo e sim, é o mesmo motorista hoje.

16 de fev. de 2008

feeling like going home.

o dia amanhece para fazer um clichê de um filme qualquer da sofia copolla. é hora de voltar, mesmo com o corpo doendo. é estranha a sensação de que nunca chegaremos em casa, mas a gente sempre chega de um modo ou de outro. a augusta não é mais a mesma. são as subidas, a calçada irregular, o tanto de gente no contrafluxo. o sol já apareceu e nossas caras brilham sujas. mais uma estação. o metrô parece ainda mais abafado. olho para a máquinas de livros, vejo: "A Arte da Guerra" e mais um auto-ajuda corporativo ao lado. eu nem estou olhando pros livros. eu nem estou pensando em livros. vamos, vamos embora. o dia amanheceu e não suporto dormir com o quarto inundado de uma luz quieta. mas é que vai demorar e acho que não chegaremos em casa antes das nove.

5 de fev. de 2008

Início

Que o tédio seja o marco inicial. Que na falta de algum movimento, quando a poeira repousa sobre os móveis, pesadas, tocarem as superfícies esquecidas nos cantos dos cômodos, eu esteja entre tudo que recebe o toque de algum abandono desentendido e não saiba mais o que é cinza, pó, indiferença ou a pressa das coisas quando cada movimento é tão devagar. A idéia seria uma outra palavra entre quietudes e preguiças vespertinas, mas o som é o mesmo desde o grande atrito quente das moléculas, simplesmente as mesmas ondas que reverberam. Pensava ainda que para reparar toda inanição bastava abrir a boca e comer, mas me viria o gosto deste mesmo som que lhes oferto. Se não bastasse, abriria a janela, mas as partículas levantam do asfalto e entram. Sim, agora com algum movimento.
Foi que da voz velha saiu um sim.